Durante um tempo da minha infância e adolescência morei em Duque de Caxias no Rio de Janeiro, o bairro era o parque fluminense bem próximo ao bairro São Bento onde nasceu e morou durante muito tempo o maior ídolo da história do Vasco da Gama.

No início dos anos 80 cheguei a fazer alguns testes no campo do São Bento com Gradim, ex-jogador e olheiro famoso no Rio de Janeiro, entre os seus feitos estava à revelação de Roberto Dinamite, mas a admiração por Zico falou mais alto e acabei optando pela escolinha do Flamengo. Não tive como levar muito a sério o futebol, a pressão para estudar era muito maior, mas era comum nos fins de semana tomar banho próximo à linha do trem nos brejos do rio Iguaçu e jogar bola no campo do São Bento, de quebra sempre víamos o Roberto e era aquela tietagem, uma pena não termos a facilidade da foto com o celular hoje em dia. Aí veio o acidente trágico entre o trem e o ônibus da TREL, depois disso fui proibido em casa de atravessar a avenida.

À medida que fui me apaixonando por futebol e me tornei frequentador de jogos no maracanã passei a temer Roberto Dinamite, antes dos jogos logo de manhã recorria ao jornal dos sports para ver a escalação do Vasco nos dias de jogos contra o Flamengo e quando aparecia o nome dele ficava desanimado para ir ao estádio, principalmente quando o Flamengo jogava desfalcado de Zico, porque Roberto era fenomenal, não perdoava dentro da área, era vigoroso com os adversários e tinha um chute que era uma dinamite nos pés que dava para ouvir da geral o som quando a bola batia nas redes.

Lembranças de um futebol com ídolos que amavam seus clubes e não trocavam de camisa com a facilidade de hoje em dia. Infelizmente muita coisa mudou através dos anos, desde a forma de jogar com a obrigação de atacantes fazerem marcação, preparação física no limite e até a maneira de apoiar o time ficou diferente, onde torcer virou sinônimo de cobranças exacerbadas quando as vitórias não acontecem e até Roberto passou por isso quando foi presidente do Vasco em momentos delicados do clube, mas nada capaz de apagar sua história no gigante da colina que sempre foi de humildade e respeito.

O Brasil está de luto, perdemos em uma semana o rei Pelé e agora Roberto Dinamite, precisamos mais do que nunca manter viva a lembrança dos verdadeiros representantes da arte e ginga brasileira, afinal ainda temos tempo para resgatar nossa essência no futebol.