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Partidos políticos e farinha

Há na Assembleia Legislativa do Maranhão uma guerrinha entre grupos ou subgrupos, ou subqualquercoisa para escarafunchar e abocanhar um espacinho ou outro de poder e influência que exista e que possa ser garimpada naquela fonte de poder. Notadamente, na berlinda, estão os mandatos do deputado Carlos Lula e da deputada Ana do Gás que querem sair de suas legendas por conta dos interesses acima (ou outros). Ambos fazem beicinho para a justiça no sentido de trocar de partido e não perder o mandato.

A dinâmica do dia a dia da VIDA é racional, tanto quanto se equilibra com o emocional. O ser humano é plural e diverso (não recorrerei a termos da moda), dentro do gigantismo do prisma que humilha qualquer ideia de Inteligência Artificial. Isso, mesmo, como apontou Hortega y Gasset “o ser humano é ele mesmo e suas circunstâncias”.

Isto posto, podemos apontar umas duas missivas à esbórnia que se constitui o universo dos partidos políticos no país. Ah, não é esbórnia, caro vate? “Ah, por que no tempo de Getúlio…”, diria um, “Não, mas ainda, na Proclamação da República…”, diria outro… Enfim, é como As Pombas de Raimundo Correia… (suspiro desiludido deste jornalista).

Rapidinho viria alguém lembrar o PC do B, parceiro no primeiro governo Roseana Sarney; depois alguém lembraria de Ricardo Murad no PSB, no começo dos anos 2000. “Ah, mas o PT, não!…” um militante histórico pularia estufado da casa do cancão… Certo, pelo PT já passaram Yglésio, Lahésio… Cadê o militante? Eu iria lembrar mais alguns do passado recente, e ainda temos os da atualidade!

Os partidos mais fortes e significativos no Maranhão, nos últimos 50 anos foram PFL e PMDB, todos geridos através de técnicas coronelistas, desde sempre. Ignoro outras notações destas mesmas siglas antes e depois, porque remetem ao mesmo grupo e ao mesmo significado (não direi ideologia). Excetuando-se, com reservas (poucas), o antigo MDB do bipartidarismo, da última ditadura militar, por questões mais didáticas do que outras.

Nenhum partido no Maranhão (ficarei aqui no quintal, mesmo) pode arvorar-se de nada; nem vocês “rapaziada”… Tudo não passa de um jogo, onde a racionalidade não está subjugada a nenhum conceito maior de política, de povo, de nação, ou de bem comum, mas unicamente de interesse pessoais, grupais ou corporativos, e até, internacionais. Não importa em que saco a farinha está, nem de que torrador saiu; foi feita no mesmo forno, da mesma mandioca.

Agora sim: no Brasil as consequências disso remontam aos esquemas da exploração dos recursos naturais no Brasil-colônia, tendo um ponto grave nas negociações da abolição da escravatura, passando pelos vários golpes a partir da Proclamação da República, atravessando todo o século XX e, ainda, com tentativas de golpe, já no século XXI.

Como a justiça vai avaliar a relação entre a “comunista” Ana do Gás, e o “socialista” Carlos Lula e os seus determinados partidos? Como diria o personagem de Otávio Augusto, no maravilho filme de Ugo Georgetti, O Príncipe: “é tudo colunismo social”. Ou ainda, como naquele poema de Baudelaire O bobo e a Vênus: “E Vênus, a implacável, olha para longe, vagamente, com os seus olhos de mármore”.

E então, prezado Ortega Y Gasset, essas são as circunstâncias?

Uma senadora que fecha o ano exalando: “tá tranquilo, tá favorável”

A senadora Eliziane Gama organizou um encontro com a imprensa neste sábado, numa churrascaria elegante da cidade. O evento correu tranquilo com muitos dos principais cronistas da política local.

Um evento que se fosse chamado de “confraternização” caberia com perfeição. Tudo na paz, tudo tranquilo, tudo favorável entre anfitriã e os jornalistas nem sempre tão bonzinhos, assim, com seus personagens.

Mas o mais importante foi a postura da senadora, ou melhor, de Eliziane, que se fez mais presente como mulher, como pessoa, do que como política que ocupa lugar de destaque nas altas rodas do staff nacional, sendo inclusive cotada para ocupar um Ministério do presidente Lula, no ano que vem.

Eliziane circulava suave e sorridente e leve entre seus convidados. Aliás, já foi assim, no grandioso evento que se tornou a comemoração organizada pelo PC do B, em comemoração aos dez anos da eleição de Flávio Dino ao governo do estado, ocorrida há alguns dias.

Talvez seja a maturidade política, ou simplesmente a maturidade, ou algum espírito natalino que ofertou esse ar de alegria e naturalidade à senadora. Com este quantum a mais de qualidade, ela terá dois anos complexos pela frente. Mas, na calma, todos os caminhos parecem sempre mais claros.

A morte e a morte da Literatura: água!

O escritor Danton Trevisan, um dos grandes nomes da literatura brasileira, notadamente o gênero Conto, morreu, nesta segunda-feira 10, em Curitiba (sua cidade natal), aos 99 anos. O Dalton não falava de literatura (com exceção do tempo em que editou a revista Joaquim, de 1946 a 1948), não dava entrevistas (a última foi em 1972), não falava com jornalistas, não gostava de ser fotografado, mas gostava do contato com as jovens estudantes de Letras da UFPR.

Seu livro mais conhecido é O vampiro de Curitiba, de 1965, que rendeu o apelido ao contista – Vampiro de Curitiba –, que de vampiro não tinha nada, apesar de arredio, Dalton viveu no mesmo endereço a vida inteira, de onde saía diariamente para seus passeios matinais. A morte de Dalton vai alargando o Buraco Negro que suga em seu Disco de Acreção uma gama cada vez mais monstruosa de enganadores, medíocres e enrolões da literatura. É como um Quincas que, ao ler estas literaturas, gritaria: “água!”.

Quem faz o olhar sobre o mundo, além das massas, perdeu a voz. Houve tempos em que os construtores da literatura, ou críticos teatrais e etc, eram respeitados e até temidos pela sua pontual certificação do que era bom, mais ou menos ou ruim mesmo. Antônio Houaiss, Barbara Heliodora, os Irmãos Campos, ou o próprio Guimarães Rosa foram vozes ativas e respeitadas em tempos recentes, mas já passados. Eles precederam a internet. Se aqui estivessem, seriam “cancelados”.

Eu já procurei muito (e não encontrei – o Google já não é mais tão generoso) uma situação que me foi descrita por uma amiga, onde numa palestra, ou banca de encontro literário, em Portugal, um professor (não são mais “críticos”) disse na cara da escritora brasileira Aline Bei que o que ela produzia “não é literatura”. “Sobranceira, fornida”, ela encarou o dito cujo e respondeu “é sim!”: “introibo ad altare Dei”…

Não é uma questão de cãibra, de impaludismo, de velhice, de saudosismo, de preciosismo, nem de letra M nenhuma (M, a letra do Maranhão, segundo P. Antônio Vieira). Quantos já propuseram a “morte da poesia, morte da literatura” e etc… Poe, Walt Whitman, Rimbaud, Pound modificaram e elevaram a literatura em seus tempos (que são mais ou menos os mesmos) até outra Ordem secular, mas isso já tem mais de cem anos e no Brasil daquela época reinava o soneto, a formalidade, enfim, o beletrismo asseado e conformado. Embora tivéssemos Sousândrade, mas este ficou confinado no ostracismo por quase um século, até que os irmãos Campos o resgataram. Este ano aconteceu a publicação das obras completas dele, numa edição linda, feita, justo em Curitiba, pela Editora Anticítera.

Na era virtual as escritas são igualmente virtuais. O que se produziu há 20 anos, no Editor de Texto da época, que já foi superado, talvez, no futuro, não seja possível mais decifrar o que foi registrado ali. Se é que haverá alguém a se interessar por escritos. Mas, talvez, mais na frente, alguma Inteligência Artificial “reescreva” o que se perdeu de um bom poeta dos anos 2000. Que tal?

A literatura sempre foi vítima de genocídio. Quantas obras foram queimadas, se perderam por desleixo, por motivos políticos, por inveja, por dinheiro… Mas nunca foi assim, tão insidiosa a destruição da literatura em detrimento das puerilidades. Há um sangue nos olhos e um saldo no banco para desenganar qualquer proposta que não esteja de acordo com o status quo, que ainda existe…

Este imediatismo vai custar caro. Na educação já está gerando grandes preocupações em pesquisadores, a exemplo do psicólogo social e professor Jonathan Haidt, que tem alertado para os males da virtualidade perante a vida escolar e social das crianças. Segundo o professor norte americano, as crianças, sufocadas pelo mundo virtual, pelas redes sociais, estão perdendo o convívio com seus pares, e ficando doentes, no que ele chamou de a Geração Ansiosa, título de um de seus livros.

O Dalton, um dos últimos representantes da literatura brasileira do século XX (e XXI, ele escreveu e publicou até os 90 anos) se foi. Quem está publicando agora, escritores e editores tem uma missão: a de não deixar a literatura de verdade morrer, essa que não é politicamente correta, que incomoda, que desdiz o que todos dizem, que causa dor, nojo e êxtase. Até por que, como disse o Dalton “Só a obra interessa… O autor não vale o personagem… O conto é mais importante que o contista”…

Há um limiar absurdo travestido de justiça: a condenação de obras de literatura em detrimento de leis ou entendimentos do momento. É uma armadilha para apagar um passado vergonhoso, que, antes de ser apagado, precisa ser exposto e analisado à luz do desenvolvimento da alteridade, para que não se repita.

A escrita eletrônica não admite sequer palimpsestos; depois do “salvar”, já era. A literatura não gera fósseis, ela é o espanto do espartano de Plutarco: “uma voz e mais nada”. Mas pode ser reconstruída a partir do nada – a essência humana, “a outra ordem do mundo”, mas, para isso, é preciso que haja sobreviventes.

A cidade amanhece sem água, sem ônibus, sem governo e nunca terá

A cidade amanhece sem água, sem ônibus, sem governo e nunca terá

Parece problema de meados do século XX, de uma república de bananas qualquer encravada na imensidão selvagem da América do Sul… Roteiro de filme irresponsável, como um sem percentagem das produções roliudianas. Ou a São Luís do século 19 quando Ana Jansen manipulava a distribuição de água na capital Timbira, feita sob carroças puxadas por cavalos ou bois…

“Mudaram as estações, nada mudou”… outro roteiro de música ingênua de Renato Russo cabendo na nossa capital de mais de um milhão de habitantes, onde os princípios ainda se firmam em costumes (?) monárquicos de séculos passados.

A única coisa que parece transcorrer na hipermodernidade, ou modernidade líquida é que as notícias pipocam nas redes sociais: grupos de porteiros, supervisores ou de síndicos, que anunciam mais um desespero na chegada ao trabalho, uma vez que não tem transporte coletivo das “cidades dormitórios” que fornecem profissionais para a “corte”, mas também não chegou a água do “dia de sim” e as cisternas estão vazias…

“E ainda assim, ela gira”… mesmo que nos grupos de jornalismo, de blogueiros nada, ou quase nada se fale, porque a greve é de responsabilidade do governo do estado.  Transporte semiurbano da famigerada MOB, a água da famigerada CAEMA e tantos famigerados…

Resta vir um magistrado com sua “varinha mágica” e decretar a greve: ilegal (mas é de responsabilidade do governo!!!! – mas vai sobrar para o sindicato! rsrsrsrs), e, pronto! “missão cumprida!”.

Enquanto isso na “fundição do jeitinho”, se forja um, quer dizer, constrói-se uma legislação para nomear parentes, homenagear cretinos ou impedir piercing e tatuagem em cachorros (que cagam e mijam a cidade inteira), ou pra dar passagem de graça para “cegos em quartos escuros, procurando gatos pretos que não estão lá”, embora o transporte esteja paralisado porque “nãoseiquem disse que pagou, mas nãoseiquem disse não recebeu e nãoseiquem resolveu parar da noite para o dia e a generalidade de trabalhadores, empresários e todo mundo que se foda.

Mas a construção da justiça e da dignidade humana, não. Definitivamente, não! Isso é com a torcida. Água, transporte coletivo, limpeza urbana, sustentabilidade, cidadania: só arrumando um “bando de macho, com testosterona” para resolver isso na bala, no chute e no grito. Né, Coronel?!

P.S: A última frase contem ironia.

A greve no transporte é um tijolo com o qual podemos construir uma solução ou jogar pela janela

“As forças repressivas não impedem as pessoas de se expressarem, mas as forçam a se expressar. Que alívio não ter nada a dizer, o direito de não dizer nada, porque só assim há chance de enquadrar o raro, ou cada vez mais raro, o que vale a pena dizer”. (Deleuze)

 

O filósofo Gilles Deleuze escreveu que a “Filosofia, lança-nos todos em negociações constantes com, e uma campanha guerrilheira contra, nós mesmos”. Uma dessa campanhas é eleger os nossos verdugos. Hoje mesmo li um tecido de elogios a um já falecido que a história mostra tão cínico quanto os encarnados.

E, apesar do recurso filosófico, nada mais falo do que dos políticos, poderiam ser todos, mas hoje vai em especial para os executivos, mais precisamente para o prefeito. Isso mesmo por causa da tortura imposta aos trabalhadores, estudantes, doentes, desempregados, e até aos empresários que arcam com uma boa parcela do custo de uma greve de transporte coletivo.

Deleuze continua que “Por baixo de toda a razão está o delírio e a deriva”. Uma eleição começa com dois delírios: as promessas infames dos candidatos e a crença nelas pelo eleitor. A deriva é uma só: a que lança todos ao esquecimento, ao desprezo, à infâmia, em suma, ao terror do abandono; a exemplo desta, em menos de 4 anos, quinta greve do transporte coletivo, que é usado por mais de 70% da população.

Os insulares prosperam na miséria. Sendo vítimas de todos os açoites. Tudo de ruim sobra para a população, embora esta carregue como única culpa a escolha de suas quimeras, resultado da crença em profetas, salvadores, demiurgos, uma fé cega contra uma espada afiada.

Para finalizar ainda com Deleuze, “Um conceito é um tijolo. Pode ser usado para construir um tribunal da razão. Ou pode ser jogado pela janela”. Mas o eleitor não escolhe a construção da razão nem jogar o tijolo-conceito pela janela, antes disso, prefere repetir os seus erros constantes, ou, escolher coisa pior, ou, ainda: comer o tijolo.

Maranhão ocupa a 1ª posição entre os estados nordestinos com maior ocorrência de latrocínios

A categoria de análise chamada de mortes violentas intencionais (MVI) é composta pelas seguintes subcategorias: homicídio doloso, latrocínio, feminicídio, agressão seguida de morte e morte decorrente de intervenção policial.

Conforme o portal do MJSP, através do SINESP (Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública) o Maranhão ocupa, em números absolutos, a 4° posição entre os estados com maior ocorrência de MVI do Nordeste. Por outro lado, observando a taxa por 100k hab (método de observação mais adequado) o estado possui a 2ª menor da região (21,1), entre os meses de jan/out de 2023, apresentando uma redução de 4,55% em comparação com o mesmo período de 2022. Mesmo assim com uma taxa acima da média nacional (17,89).

Ao analisarmos as subcategorias separadamente vemos que as taxas de homicídios dolosos (19,19) aumentaram 0,65%, colocando o Maranhão na 4ª posição no NE. A taxa de feminicídio (0,57) diminuiu 32,79%, mas também acima da média nacional (0,54). Foram 41 feminicídios no período registrado. Mas, é importante destacar que no mesmo período 67 mulheres foram vítimas de homicídio doloso e a cada ano mais mulheres são assassinadas. Aqui vemos um problema metodológico, mas também de dificuldade de qualificar o assassinato de mulheres como feminicídio.

O latrocínio, que é o roubo seguido de morte, cuja taxa é de 0,69, coloca o Maranhão na desagradável condição de 1° lugar no NE e 6° no Brasil nessa subcategoria. Apesar de ter havido uma redução de um pouco mais de 38% em comparação com 2022.

As elevadas taxas de homicídios dolosos e latrocínios confirmam o quanto o ano de 2023 foi problemático – dizendo o mínimo – em relação à gestão da segurança pública no Maranhão. Um ano durante o qual o Maranhão se destacou por ter Caxias entre as 50 cidades mais violentas do Brasil e Junco do Maranhão como uma das 15 mais violentas da Amazônia Legal. Também foi um ano em que várias vezes a SSPMA não forneceu dados importantes sobre a raça das vítimas de MVI e não tabulou também os crimes de ódio, deixando claro seu desprezo pelas bases de dados produzidas por diversos institutos de pesquisa.

A produção de dados não é trivial, uma vez que eles são fundamentais para os processos político-administrativos de resolução de problemas. Tais processos são racionalizados por analistas e gestores de políticas públicas em etapas que configuram aquilo que chamamos de ciclos de políticas públicas, constituídos por fases de: 1) identificação de problemas; 2) definição de agendas políticas; 3) formulação de políticas; 4) implementação de políticas; e 5) avaliação e monitoramento de políticas. Quais problemas são prioritários e dignos de inclusão na agenda político-administrativa? De que forma devem ser tratados? Quais tratamentos aplicados foram eficazes e devem ser replicados? Quais devem ser abandonados? A produção de dados se faz necessária para responder a cada uma dessas perguntas, sendo definidora do processo de produção e por consequência, do resultado dos ciclos de políticas públicas.

O Telejornal Jornal da Guará encerra uma jornada de 12 anos

Ontem, dia 9 de janeiro, a cena do “último Jornal da Guará”, protagonizados pelos jornalistas Hugo Reis e Marcus Saldanha formou um suspiro para além do bem e do mal (aquele paciente terminal que agoniza e causa sentimentos contrastantes, mas plenos de puro amor…). Assim foi a despedida dos jornalistas responsáveis pelo telejornal e suas nuances políticas, muitas consagradas na respectiva seara, do nosso idiossincrático estado.

 

No fim, tudo acaba; poético e tautológico, como a vida e o ser (aquilo que ” é e não pode não ser”). Nos descaminhos de nomear o mundo, os processos de ruína são tão líquidos como a sociedade baumaniana.

A Emissora nasceu como um sonho de Wonka de Roberto Albuquerque, empresário curtido no ambiente escaldante e apaixonado pela interação social tradicional maranhense. Ali, um embrião apareceu e foi crescendo até se tornar um ser inquieto e impertinente.

Foi ousada nas eleições de 2014 fugindo do padrão local de ser terremoto de um lado, calmaria de outro, embora tivesse uma linha editorial clara e equilibrada.

Às vezes os conservadores são mais seguros que os revolucionários. E revolucionários tem uma balança muito delicada, quase quântica, e, certamente, assentada na relatividade, onde um mero “bóson” descoberto, muda de lugar como mágica. As novas reações, incertas e cobertas de temperatura, pressão, catalisadores e etc e tal, levam a um composto dinâmico, onde o ser, deixa de ser. Viu, Seu Parmênides?!

E assim, a TV Guará resistiu depois de 2014, de 2016, de 2018, foi guerreira depois de 2020 e , com seu pequeno porte, sua humildade, sua alteridade, deixou uma marca única na Televisão maranhense: foi criativa, inclusiva e sobretudo INDEPENDENTE & LIVRE, o que causa pavor nos arrogantes e nos mal intencionados.

A TV Guará foi uma emissora guerreira enquanto foi independente. Seus estertores não representam sua trajetória.

Roger Waters X Flávio Dino e a criminalização da crítica

Esta semana o advogado Ary Bergher, vice-presidente da Confederação Israelita do Brasil (CONIB), entrou com uma ação contra o cantor Roger Waters para que ele seja impedido de ingressar no país e realizar shows em território nacional.

A alegação seria apologia ao nazismo baseada na polêmica criada por autoridades alemãs um show no dia 17 de maio onde o fundador do Pink Floid usa um figurino e performance teatral nas músicas “In the  Flesh” e “Run Like Hell”, duas letras ácidas que criticam ferozmente regimes totalitários como o fascismo e próprio nazismo. Vale ressaltar que Roger Waters é judeu, teve o pai assassinado por nazistas durante a segunda guerra mundial, além de que ele já faz essa performance há décadas em seus shows.

Outro detalhe mais importante é que durante esse trecho do show é exibido no telão fotos de vitimas desses regimes autoritários como Anne Frank e Shireen Abu Akleh, jornalista palestino-americana da Al Jazeera que morreu em uma operação israelense há pouco mais de um ano.

 

E Foi nesse último que Roger Waters tocou na ferida do Estado Israelense, Estado esse que também é sionista e massacra há décadas os palestinos na faixa de Gaza com apoio total dos EUA e dezenas de países aliados, inclusive o Brasil do passado recente onde o inominável  ex presidente flertava frequentemente com o fascismo e a extrema direita alemã, mas nem essa aproximação com descendentes diretos de nazistas que participaram do holocausto foi capaz de fazer o sionista Ary Bergher deixar de idolatrar o mitômano brasileiro.

Alguns países estão adotando o argumento de que a critica seria uma espécie de apologia com argumentos contraditórios e sem sustentação cientifica. Sem me alongar deixo perguntas como forma de reflexão, o que vamos fazer com a memória de Charles Chaplin e o seu eterno o grande ditador? Vamos apagá-lo da história sem chance de defesa? Vamos execrar Steven Spilberg por ter feito o brilhante filme A lista de Schindler?

Como no Brasil tudo se copia e o pior, sem adaptações. Todo cuidado é pouco para Flávio Dino,             que pode ter sido levado para uma sinuca de bico embaraçosa onde diferente de Robinho e Daniel Alves, Roger Waters tem uma carreira irretocável e sempre atuou do lado certo da história.

Mais de 30 anos de greve no transporte coletivo de São Luís: quem são os culpados?

A vida humana tá sempre em busca de “quem é o culpado” por toda e qualquer desgraça do mundo. Não é diferente com a greve do transporte coletivo. “Rodoviários não cumprem determinação da Justiça e greve…” é apenas um dos títulos que li na manhã desta quarta-feira (26). Só no período que cubro e uso o sistema de transporte coletivo, são 35 anos de recorrência do mesmo problema.

Cumprindo suas características escravagistas, coronelistas e oligárquicas o Maranhão segue com sua chibata no lombo do povo trabalhador. Ocasionalmente, nos inúmeros ao vivo que acompanhei, onde vários usuários desesperados opinaram, nenhum culpou os motoristas e demais servidores do sistema de transporte. Ao contrário, as críticas foram todas direcionadas aos gestores políticos.

No governo do prefeito Edivaldo Jr. acompanhamos aquele engodo de licitação do transporte coletivo. Onde botaram uma roupa nova num defunto, para que parecesse um jovem saudável. Tudo mentira! As mesmas empresas, a mesma qualidade, a mesma precariedade, tudo igual; nada mudou. Até os poucos ônibus com ar condicionado que apareceram, acharam uma desculpa para não usar (a pandemia).

Mas para a justiça e alguns outros, quem tem que ser penalizado é o trabalhador. A greve é “considerada ilegal”. Enfim, só falta a chibata para obrigar os trabalhadores a trabalhar sem condição e sem reposição salarial, para fornecer um transporte coletivo sem nenhuma dignidade e com os mesmos preços praticados em todas as grandes cidades do país, inclusive as que oferecem um transporte decente.

Acabou o direito de greve? A solução correta é a solução banal (na canetada)? Os poderes públicos estaduais e municipais ficarão sentados observando o sofrimento da população e absolutamente todos os serviços da cidade sendo amargamente penalizados pela incapacidade de os trabalhadores se deslocarem para seus postos?

Mas os culpados são os trabalhadores do sistema de transporte que não querem trabalhar sob condições amargas e com salários, tickets alimentação e planos de saúde atrasados e/ou defasados…

Entre os empresários do transporte coletivo, os poderes estadual e municipal e os trabalhadores do sistema, os dois primeiros não cumprem suas obrigações e os últimos exercem o seu direito constitucional.

Sobra o usuário, o único penalizado com tudo isso.

E por trás dessa situação há uma grande teia política que encobre como névoa ácida todo o sofrimento do povo. Uma teia que mira o desgaste de alguns agentes políticos e promoção de outros. Mais uma vez o povo é tratado como gado, massa de manobra, boi de piranha, que não merece nenhum respeito, desde que siga indignado com o que os sistemas de comunicação mais forte for capaz de propor.

A foto que ilustra esta matéria foi feita por mim entre 1988/1989, num breve período em que passei pelo Jornal O Imparcial e cobri, então, uma greve de ônibus, ou seja um sistema que vem gerando os mesmo problemas há mais de 30 anos.

O resto é poeira para, depois de conseguidos os resultados, ser varrida para baixo do tapete, como, por exemplo, a licitação do transporte coletivo feita pelo prefeito Edivaldo Jr e que não mudou nada. Quem são os culpados?

Mistérios de São Luís: a morte do Joalheiro Galleotti

São Luís se autointitula como “uma cidade cheia de lendas e mistérios”. Alguns desses “mistérios” se eternizaram no imaginário popular, enquanto outros nem tanto. Como exemplo destes “mistérios” esquecidos temos a morte do Joalheiro Galeotti/Galleotti.

A cidade ainda avaliava os estragos provocados pela chuva torrencial da noite anterior quando a imprensa noticiou a descoberta do cadáver do conhecido joalheiro e dono da ótica e joalheria “Pêndula Maranhão” (Rua Oswaldo Cruz, n° 23). O corpo do joalheiro Galeotti/Galleotti, que morava em uma casa simples situada à Travessa 5 de outubro, no Centro da cidade, fora encontrado na cama, enforcado com o próprio cinto, por seu sócio, Pedro Mojoli.

A polícia incialmente tratou o caso como suicídio, mas por pressão dos periódicos locais, que levantavam dúvidas sobre essa linha investigativa, passou a tratá-lo como homicídio e o primeiro a ser indicado como suspeito foi Pedro Mojoli.

Foram 3 anos entre idas e vindas. Interrogatórios; confissões sob tortura; anulação da confissão porque foi feita sob tortura; prisão preventiva; habeas corpus; “bate-boca”, através da imprensa, entre o chefe de polícia, promotor de justiça, defesa, jornalistas; marcação e adiamento do julgamento; remarcação, realização e anulação do julgamento. Os jornais aliados ao governador Godofredo Viana elogiavam o “meticuloso trabalho de investigação policial acompanhado de perto pelo nosso excelente governador”. Já os de oposição chamavam as hipóteses levantadas pela polícia de “um claro esforço de ‘sherloquismo’ amador” e exortava a necessidade de modernização e profissionalização urgente da atividade policial e do trabalho legista no Maranhão.

Em 1927, Pedro Mojoli foi julgado e considerado inocente pelo Tribunal do Juri. Não houve recurso por parte da promotoria. O caso foi arquivado e até hoje, 100 anos depois, a misteriosa morte do joalheiro Galeotti/Galleotti continua sem solução.

Na foto 1, retirada do jornal Folha do Povo (20/09/1924), Pedro Mojoli é chamado de “criminoso”, antes mesmo do seu julgamento ou de qualquer condenação.

Na foto 2, print dos autos do processo, nota-se que as perguntas feitas ao juri já indicam claramente a intenção de condenar o réu, Pedro Mojoli.

Fontes:

Periódicos: Folha do Povo, Diário de São Luiz e Pacotilha

Judiciais: autos do processo do caso Galeotti/Galleotti (Arquivo Judiciário).

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