Categoria: Coluna do Natanael Jr.

Roger Waters X Flávio Dino e a criminalização da crítica

Esta semana o advogado Ary Bergher, vice-presidente da Confederação Israelita do Brasil (CONIB), entrou com uma ação contra o cantor Roger Waters para que ele seja impedido de ingressar no país e realizar shows em território nacional.

A alegação seria apologia ao nazismo baseada na polêmica criada por autoridades alemãs um show no dia 17 de maio onde o fundador do Pink Floid usa um figurino e performance teatral nas músicas “In the  Flesh” e “Run Like Hell”, duas letras ácidas que criticam ferozmente regimes totalitários como o fascismo e próprio nazismo. Vale ressaltar que Roger Waters é judeu, teve o pai assassinado por nazistas durante a segunda guerra mundial, além de que ele já faz essa performance há décadas em seus shows.

Outro detalhe mais importante é que durante esse trecho do show é exibido no telão fotos de vitimas desses regimes autoritários como Anne Frank e Shireen Abu Akleh, jornalista palestino-americana da Al Jazeera que morreu em uma operação israelense há pouco mais de um ano.

 

E Foi nesse último que Roger Waters tocou na ferida do Estado Israelense, Estado esse que também é sionista e massacra há décadas os palestinos na faixa de Gaza com apoio total dos EUA e dezenas de países aliados, inclusive o Brasil do passado recente onde o inominável  ex presidente flertava frequentemente com o fascismo e a extrema direita alemã, mas nem essa aproximação com descendentes diretos de nazistas que participaram do holocausto foi capaz de fazer o sionista Ary Bergher deixar de idolatrar o mitômano brasileiro.

Alguns países estão adotando o argumento de que a critica seria uma espécie de apologia com argumentos contraditórios e sem sustentação cientifica. Sem me alongar deixo perguntas como forma de reflexão, o que vamos fazer com a memória de Charles Chaplin e o seu eterno o grande ditador? Vamos apagá-lo da história sem chance de defesa? Vamos execrar Steven Spilberg por ter feito o brilhante filme A lista de Schindler?

Como no Brasil tudo se copia e o pior, sem adaptações. Todo cuidado é pouco para Flávio Dino,             que pode ter sido levado para uma sinuca de bico embaraçosa onde diferente de Robinho e Daniel Alves, Roger Waters tem uma carreira irretocável e sempre atuou do lado certo da história.

Greve dos professores. Cumpra-se a lei, mas nem tanto

É preciso voltar no tempo para entender que a Via Crucis dos professores não começou no ano passado e que o SINPROESSEMA já faz alguns anos que é um braço aparelhado do governo aceitando calado o não cumprimento da lei 11.738 desde o inicio do governo Flávio Dino e continua não cumprindo com Brandão, veja os fatos:

Em 2016 o MEC estipulou o aumento em 13,01% mas o governo Flávio Dino passou por cima da lei e não deu nada de reajuste. Em 2017 o MEC reajustou o piso em 7,64%, mas o governo mais vez não aplicou no vencimento e malandramente aumentou a GAM que era de 104% e passou para 120%, resultado a categoria em vez de ter um aumento real teve uma pequena perda na sua remuneração. Em 2018 o aumento foi de 6,81% e o governo o que fez? Deu 3,40% em março e 3,40% em junho, sendo que a lei é clara e diz que o reajuste deve ser em janeiro e sequer pagou os retroativos, está claro que o governo não gosta muito de cumprir o que diz a lei. Em 2019 o MEC estipulou o aumento em 4,17% e o governo mais uma vez ignorou a lei e não repassou o aumento. Em 2020 o aumento foi de 12,84% e governo como de costume não cumpriu a lei e deu apenas 5% de aumento para a categoria. 2021 foi o ano da pandemia e por isso não teve aumento da categoria. Em 2022 o MEC estipulou 33,24% e o governo como de praxe pagou 8% dividido de duas vezes sem pagar os retroativos. O que fez o SINPROESSEMA na época? Nada, apenas fechou os olhos.

Ano passado o governo do Maranhão tratou o aumento dado por Bolsonaro como estratégia eleitoral, mas não teve como evitar o desgaste que colocou em xeque o discurso que pagava o maior piso para profissionais da educação do Brasil. Os professores reivindicaram praticamente sozinhos em redes sócias o cumprimento da lei nacional, mas o SINPROESSEMA sequer cogitou a possibilidade de greve unificada em todos esses anos da categoria. Alguém sabe o motivo?

Bom, durante o calor das declarações assistimos uma série de contracheques de membros do sindicato vazados expondo o aparelhamento da entidade junto ao governo e para estampar de vez o carimbo governista o presidente Raimundo Oliveira se candidatou a deputado estadual com a promessa dos leões engajarem na sua campanha, pratica comum na entidade através dos anos por sinal.

O que já era um problema para o Estado cumprir a lei do piso ficou ainda pior em 2023. Em cumprimento a lei 11.738 o MEC reajustou em 14,95% o salário dos professores e o valor passou a ser R$ 4.420,55 e com as frustações eleitorais não superadas, a perda de cargos no governo Brandão o SINPROESSEMA resolveu acordar e foi pra cima do governo, mas com um detalhe, o sindicato está rachado, depois do corpo mole e do fracasso nas urnas ano passado, Raimundo Oliveira teve as atenções divididas com o professor Antonisio Furtado que passou a ter a simpatia da classe.

Agora vamos entrar na polêmica discussão do que é o piso salarial. É preciso deixar claro que já há um entendimento jurídico nacional que o vencimento deve ser considerado o piso, mas o governo do Maranhão insiste que não, para ele o piso é vencimento mais a GAM, gratificação de atividade do magistério.

Para o leitor entender melhor vamos explicar o que é GAM.

A Gratificação de Atividade de Magistério foi criada pela lei 9860 em 2013no governo Roseana Sarney, o seu objetivo era estabelecer critérios para o desenvolvimento na carreira do magistério com foco na melhoria continua do processo de ensino e aprendizagem. Ou seja, a GAM surgiu como um mecanismo de incentivo ao profissional da educação e nela estão vários critérios de progressão na carreira para que o professor tenha motivação durante o seu período letivo, como tempo de serviço e titulações.  Em outras palavras, quando qualquer trabalhador recebe uma gratificação é uma espécie de recompensa além do salario que já recebe por seu empenho na sua atividade.

O professor recebe acima do piso nacional no Maranhão?

Sim recebe, somando o vencimento com a GAM os professores recebem a sua remuneração acima do piso nacional, porém com outras gratificações como vale transporte, auxílio alimentação e gratificação por tempo integral para professores de 40 horas. Ou seja jogam tudo no bolo e improvisam essa receita. Um detalhe importante, qualquer outra gratificação e progressão leva em conta apenas o vencimento e não o somatório gam mais o  vencimento.

Mas então por que a reclamação da categoria e a greve?

Os professores alegam e com razão que existe uma fragilidade jurídica muito grande em relação à incorporação da GAM como remuneração total pelo seu trabalho. O governo usa o argumento de que não tem risco porque os inativos continuam recebendo a gratificação e consideram uma garantia legal. Mas não é tão simples assim, na verdade, essa gratificação pode ser facilmente mudada ou até mesmo extinta por um simples projeto de lei encaminhado a Assembleia Legislativa por ser uma lei estadual e em tempos de unidade sem oposição então nem se fala.

E o que os professores querem?

Os professores não querem aumento, eles querem o cumprimento da lei nacional do piso, mesmo que para isso se reduza o percentual da GAM para que tenham garantias reais que sua remuneração fique assegurada em lei. Além disso, a classe exige transparência na aplicação dos recursos do FUNDEB e é fato que o governo não tem sido nada transparente nesse quesito, vale ressaltar também que ele tem usado esse recurso federal para o pagamento da GAM, o que é proibido por lei, mas será que os governantes se preocupam com a lei no Maranhão? Já faz algum tempo que não.

Outro dado alarmante é que o governo vem segurando as aposentadorias dos professores que já atingiram seu tempo de serviço para continuarem pagando seus vencimentos com recurso do FUNDEB, além de também usar esses recursos para pagar os aposentados da educação que pela lei deveria ser pagos com recursos do FEPA que foi extinto e virou o IPREV.

Vocês lembram do FEPA não é? Aquele mesmo do escândalo que o governo utilizou os recursos dos aposentados para outros fins que ate hoje não se sabe qual foi, mas a solução mágica apareceu rápida, mudar o nome para IPREV e esquecer o rombo deixado para trás e não para por aí a malandragem estatal, além de usar os recursos do FUNDEB para pagar os aposentados que deveriam ser pagos com o dinheiro que contribuíram a vida toda, deixando os aposentados ainda na ativa o governo continua arrecadando com o imposto descontado no contracheque dos professores, esse valor gira em torno de R$800,00 para os que se enquadram nas 40 horas semanais. Ou seja, estão ganhando dos dois lados.

Ainda sobre a lei 9860, ela é clara e instituiu que o governo tem obrigação de destinar 25% do que arrecada para a educação. Mas será que o governo cumpre lei mesmo? Então na LOA de 2023 aprovada por unanimidade na Assembleia, a previsão de arrecadação do Estado foi de aproximadamente 25 bilhões e por lei o Estado deveria repassar em torno de 6 bilhões e 200 milhões para a educação, mas por unanimidade os nobres deputados aprovaram um corte de 1 bilhão nessa verba, ou seja, nem quem faz as leis nesse Estado as cumpre, mas vamos bater palmas para o Maranhão unificado.

A justiça e a ilegalidade da greve.

É sempre delicado analisar o papel da justiça, mas tem um ditado que diz que ”da cabeça de juiz e bunda de neném, ninguém sabe o que vem”.

A lei 7.783 de 1989 que versa sobre greve é clara, para vocês terem uma ideia, a atividade de professor nem é considerada essencial, mas a justiça do Maranhão seguiu a narrativa do governo e interpretou que o vencimento mais a gratificação formam o piso e ponto final, estipulou multas e coagiu a classe passando por cima de uma lei nacional e mesmo sendo inconstitucional deu a decisão favorável ao governo, cumpra-se diz a canetada.

Ainda não sabemos o desfecho dessa queda de braço, porém o governo está longe do discurso de valorização da educação por dois motivos bem simples. Como pode um governo que se diz democrático não realizar concurso público para professores? Será que é republicano ficar fazendo seletivo para contratos e bolsistas? Onde está o discurso de campanha que prometem a cada eleição valorizar a categoria?

Outra questão moral é que inconcebível é deixar profissionais que da educação com salários atrasados como vem ocorrendo e em condições precárias de trabalho enquanto vai para redes sociais anunciar festas e mais festas milionárias torrando dinheiro público para satisfazer o ego de políticos populistas e popularescos. Sinceramente não cola.

Enquanto isso a claque aparelhada aplaude o discurso que somos os maiores e melhores em tudo, mas na realidade somos apenas um dos estados mais pobres da federação cercada de coronelismos por todos os lados.

O Maranhão é uma grande festa

Estamos vivendo uma era de delírios faraônicos no Maranhão. Como num passe de mágica, tudo que acontece aqui passou a ser o maior do mundo ou o maior da história. Impressionante.

Essa moda começou ano passado, onde o nosso São João do Maranhão que nunca apareceu entre os três principais do Brasil passou a ser chamado de maior do país pelos releases e declarações do governo.

Fazendo uma breve comparação com os dados oficiais com Caruaru e Campina Grande percebemos que tudo não passa de uma euforia demagoga e enganosa. Para vocês terem uma ideia, enquanto São Luís recebeu 129 mil visitantes no mês de junho, Caruaru recebeu 3,2 milhões de visitantes no período do São João e Campina Grande aproximadamente 2,3 milhões de visitantes.  As duas cidades do sertão nordestino disputam de fato o titulo de maior São João do Brasil e São Luís esta comprovadamente muito longe desses números.

No carnaval o delírio foi ainda maior, o governo chegou ao cúmulo de divulgar que 416 mil pessoas estavam na avenida beira mar em São Luís na segunda feira de carnaval.

 

Fazendo o mesmo cálculo que os bombeiros recomendam para eventos que é de três pessoas por metro quadrado. Como temos aproximadamente 1,5 km de extensão entre a Praça Maria Aragão e a Casa do Maranhão, considerando a largura média de 25 metros da avenida, teremos 37 mil e 500 metros quadrados disponíveis para as pessoas circularem, multiplicando esse valor por três, que é o recomendado pelos Bombeiros, chegaremos ao número de 113 mil pessoas presentes no circuito beira mar, isso nem levando em consideração os espaços vazios ao longo do percurso. Resultado muito longe do divulgado pelo governo. E mesmo assim foi dito aos quatro cantos que foi o maior carnaval do Brasil. De dados reais, tivemos 20 mil visitantes chegando a São Luís através do aeroporto e terminal rodoviário, levando em consideração quem veio de carro ou excursão teríamos aproximadamente 30 mil pessoas visitando o Maranhão, números que são insignificantes em relação ao carnaval da Bahia que arrastou 2,7 milhões de pessoas para o Estado e com um detalhe importante, no carnaval de Salvador o governo não contrata atrações para tocar, todos os blocos  são privados e cobram  acesso do público.

Mas a mania de grandeza não para por aí não. Tivemos ontem um evento municipalista que a rigor deveria ser feito para os 217 prefeitos e seus assessores para a discussão de pautas importantes para as cidades, mas que virou um grande evento e segundo o próprio presidente da FAMEM, o maior encontro da história. Como resultado prático, teremos mais uma área do sitio Rangedor desmatada para satisfazer o ego do poder. Até acho justo que a entidade tenha uma sede própria, poderia ser inclusive um prédio do excelente programa Nosso Centro para ajudar na preservação do patrimônio histórico e economizando milhões que poderiam ser usados em outras áreas, mas nada disso é levado em consideração, infelizmente.

E assim caminha o Maranhão, poder festivo que faz eventos grandiosos para celebrar um governador reeleito, que oferece jantar nababesco para 42 deputados para comemorar a passagem de três dias da Presidente da assembleia pelo comando do Estado e se não bastasse, ainda faz outra festa pomposa para empossar alguns secretários em Imperatriz.

Então vamos comemorar a volta do ICMS, o aumento da gasolina, os dados alarmantes da pobreza no estado, os números do desemprego, os salários atrasados de profissionais terceirizados pelo governo, a violência, entre outros.

E logo logo vem outra celebração por aí, onde o governador esta dando voltas no palácio se preparando para inaugurar 300 obras em 100 dias. Só lembrando que já estamos com 75 dias de governo e até agora só vimos festas e com o povo do lado de fora do camarote.

 

 

Moto Club de repetidas tradições

Começo esse artigo citando uma das minhas referências na comunicação, o jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues.

Em sua crônica semanal na revista Manchete Esportiva no dia 17 de dezembro de 1955 sob o título de “A conveniência de ser covarde” o autor de A Sombra das Chuteiras Imortais foi acompanhar uma partida entre o Olaria e o Fluminense na tradicional rua Bariri e disse o seguinte na época:

“via de regra, só o heroísmo é afirmativo, é descarado. O herói tem sempre uma desfaçatez única: — apresenta-se como se fosse a própria estátua equestre. Mas a covardia, não. A covardia acusa uma vergonha convulsiva”.

Dito isso, precisamos voltar um pouco no tempo para tentarmos entender o atual momento do Moto Club, mas precisamente ao final do ano de 2007, quando o deputado Antonio Bacelar assume a presidência do Moto. Percebam que há 15 anos o moto já repetia a formula de políticos “salvadores da pátria” para gerir um time de futebol. A imprensa na época vendia uma terra arrasada na gestão de Biné Borges, em virtude do mal campeonato e mesmo ele tem deixado no elenco nomes como Misael, Paulo César, Lenilson e Palito, não foi perdoado pela crônica esportiva.

Antonio Bacelar prometeu o que a torcida queria ouvir, mas não aguentou a pressão dos resultados na taça cidade de São Luis, ficou ausente e saiu meses depois usando a desculpa do mandato. Em seu lugar assumiu o Nelson Frota, que já era presidente do Conselho Deliberativo e segurou o clube pagando os salários, mas no final de outubro de 2008 deixa o clube depois de uma determinação sua ter sido desobedecida por um conselheiro e também pelo lamentável fato em que seu filho levou uma pedrada da torcida após um empate contra o rival que desclassificou o time no segundo turno. E observem bem, o time foi campeão do primeiro turno e acabou sagrando-se campeão naquele ano com Evandro Marques como gerente de futebol.

Mesmo sendo campeão, a imprensa continuava vendendo terra arrasada e encontrou no deputado Cleber Verde a esperança do momento para acabar com a carência de um político “salvador da pátria”. Como exemplo uma manchete da época dizia que acabou o drama rubro negro… Mas na verdade estava começando ali o nosso calvário.

O ano de 2009 foi trágico para o Moto.  Tivemos mais uma vez a ausência do presidente, Evandro Marques foi preterido por Cesar Castro no comando do futebol, o elenco totalmente modificado e contratações como Daniel Meneses, do uruguaio Larossa não surtiram efeito, nem mesmo Jack Jones e Marcinho foram capazes de evitar o rebaixamento, uma vergonha sem precedentes para a história do clube.

Ainda em 2009 houve uma tentativa desprezível de virada de mesa para o clube disputar a segunda divisão no mesmo ano que caiu, tal lambança ganhou repercussão nacional quando o Chapadinha entregou o jogo para o Viana no placar de 11 x 0, resultado que impediu o Moto de voltar a primeira divisão. Em 2010 apesar da ameaça do então presidente do conselho deliberativo Cursino Raposo de fechar as portas por falta de dinheiro, o moto conseguiu ser campeão da segundinha e voltar à elite do futebol maranhense, mas por pouco tempo.

No inicio 2012 tivemos uma junta governativa com Sarney Neto de presidente e Daniel Menezes de diretor de futebol, novamente a crise de salários atrasados, presidente ausente e conselho deliberativo omisso, praticamente uma repetição de erros do passado, o resultado foi mais uma vez o rebaixamento para série B do campeonato maranhense. Na sequencia veio a primeira presidente mulher na história do clube, Vera Baldez que tinha como Braço Direito Cleber Pereira, mas não conseguiu terminar o ano na direção do clube. Cleber Pereira abandonou o cargo de diretor de futebol e o time tecendo duras criticas ao conselho deliberativo e com o clube repleto de dívidas.

Em 2013 nenhum politico salvador da pátria quis assumir o time na segunda divisão e coube ao saudoso Roberto Fernandes à missão de colocar o Moto na primeira divisão novamente, mas passada a euforia veio a realidade da crise financeira e Roberto propõe a paralisação do clube devido ao baixo público nos estádios e a falta de patrocínios para continuar disputando o campeonato maranhense 2015.

Em 2016 Hans Nina assume e consegue ser campeão estadual e almejado acesso a serie  C, mas renunciou decepcionado com a torcida após ser derrotado nas urnas, mas pesou também a falta de receitas previstas para a temporada seguinte e as ameaças de penhoras por dividas das gestões anteriores.

Com a renúncia de Hans, em 2017 Celio Sergio assume, monta um bom time trazendo jogadores pedidos pela torcida, mas numa “interpretação equivocada” do regulamento pela FMF, o Moto fica fora das finais do campeonato. As cotas da copa do nordeste e copa do Brasil não foram suficientes para suportar a folha salarial mais alta dos últimos 10 anos, além das penhoras de dividas das gestões anteriores e no final da temporada o trágico rebaixamento para a série D. Daniel Meneses era o diretor de futebol e mais uma vez o fantasma do descenso bateu na sua porta.

Em 2018 esse que vos escreve assume o time e fica quatro anos a frente do clube e se torna o presidente que passou mais tempo no comando do clube nos últimos 20 anos. Foram quatro temporadas, sendo as últimas duas durante a pandemia que prejudicou vários times de futebol pelo Brasil, sem públicos nos estádios e falta de patrocínios com empresas sendo socorridas pelo governo federal para não quebrarem, mas mesmo assim cheguei a quatro finais consecutivas, sendo campeão em 2018, mantendo o calendário completo para time, mas a imprensa mais uma vez vendia a terra arrasada.

A história é um pouco longa para chegar até o momento atual, porem necessária para um melhor entendimento e questionamentos que precisam ser feitos.

 O primeiro deles é em qual mundo vivia o atual presidente que não conhecia o histórico do time que se meteu para gerenciar? No seu discurso estava a falácia de que tinha resolvido o problema do Socorrão e seria muito fácil encarar o Moto. Sobre o resolver o problema do velho hospital, é bom deixar claro que Yglesio, que por sinal é médico de profissão, ficou longe de resolver os problemas históricos do Djalma Marques, passou apenas sete meses na direção  sendo demitido pelo prefeito Edvaldo Holanda Junior, os legados de sua gestão foram apenas uma  vaquinha para arrecadar alimentos e outras polêmicas que não vale a pena nem citar. Agora me digam, tem possibilidade de alguém, por mais capaz que seja, resolver problemas crônicos de décadas em um hospital em sete meses? Pior que teve gente que acreditou nessa história. A imprensa esportiva então fez festa.

 Mas não podemos esquecer os conselheiros que o apoiaram, foram praticamente os mesmos de 15 anos atrás que sequer avaliaram suas bravatas e pasmem, ainda continuam acreditando na solução de um político “salvador da pátria”. Mas para alguns basta ter um mandato e mesmo nunca o deputado nunca ter ido torcer para o time no Nhozinho Santos, entregaram o destino de um clube de 84 anos de tradição para um aventureiro que com toda a sua arrogância, achou que resolveria os problemas de décadas do time passando por cima todos adotando um discurso de investimentos baixos no time para pagar em dia.

O resultado esta ai, o time dois anos sem calendário e de férias de suas atividades já em fevereiro, uma marca negativa difícil de ser superada na história do clube. Um prejuízo muito maior do que deixar dois meses de folhas salariais atrasadas. Ou seja, deixaram um calouro no futebol que jamais foi motense, que nunca jogou bola na vida, que estava por fora da realidade do futebol local tomar decisões sobre o futuro do clube sem o mínimo conhecimento de causa. Será que Yglésio errou sozinho mesmo? Com Certeza não.

Para o Moto resta juntar os cacos e resolver internamente o seu futuro. Os conselheiros mais antigos precisam reconhecer que já fizeram muito pelo clube em outros momentos, mas o modelo de governança precisa mudar. O Moto é um time que nasceu nas elites maranhenses e que sempre teve o poder concentrado em famílias tradicionais do estado, essa tradição foi quebrada algumas vezes a custo de embates internos prejudiciais as gestões que passaram pelo time. Porém não podemos responsabilizar somente alguns conselheiros ou presidentes que passaram ou que por ventura venham assumir. É necessário um amplo debate interno com torcedores e conselheiros para definir qual rumo seguir, é preciso inclusive repensar algumas formas de torcer onde copiar e normalizar ofensas e xingamentos em redes sociais como acontece nos grandes do futebol brasileiro não vai trazer uma solução, pelo contrário, nossa realidade é diferente, é preciso entender isso, além do mais, a história mostra que essas práticas já afastaram nomes como Nelson Frota e o próprio Hans, bons presidentes que contribuíram notadamente para o clube.

Esperamos que o prejuízo enorme a marca do clube causada pela gestão de Yglesio, repito, bem maior que duas folhas atrasadas, sirva de lição para mostrar que não existe “salvadores da pátria”, é necessário arregaçar as mangas e trabalhar pelo time de mãos dadas. Não da para ter a postura de atirar pedras e esconder a mão, não é admissível um poder concentrado na mão de conselheiros antigos para decidir quem é o presidente e depois do caldo derramado tirar o corpo fora, e ainda continuar insistindo no erro colocando políticos que caem de paraquedas buscando uma base eleitoral para se elegerem.

Precisamos virar essa página, como também é necessário entender que setores da imprensa não são amigos do clube, imprensa sobrevive de polêmicas e quer extrair o máximo que pode da rotina do time em busca de audiência, afinal todos sabem que noticias ruins vendem mais do que noticias boas. Sem falar a maioria dos nossos jornalistas esportivos já passaram de alguma forma pelo futebol futebol profissional como jogadores, dirigentes, assessores e nunca resolveram nada, mas mesmo assim falam como se fossem sumidades. Para piorar são influenciados pelo modelo de futebol dos grandes clubes e a comparação desleal com outras realidades induzem o torcedor a exigir muito mais de um futebol local, que por sinal esta bem longe dos grandes centros transformando os clubes como o Moto em uma grande panela de pressão tornando inviável a harmonia necessária entre clube e torcida.

Lembram-se da frase de Nelson Rodrigues no inicio do texto, pois bem, no começo todos chegam arvorados de coragem, mas na hora do “pega para capar” dentro de campo,  afinam e saem de cena, os que escolheram se encolhem e cabem aos que ficam segurar o veneno, futebol não é para qualquer um, muito menos para quem nunca jogou bola na vida.

A ditadura do discurso unificado

“Desde os primórdios até hoje em dia, o homem ainda o faz o que o macaco fazia” já lembravam os Titãs tempos atrás.

Pode até parecer piegas citar a letra de uma música num texto, mas é preciso levar em conta que fomos doutrinados a confiar na história, não só a dos registros “oficiais”, que por sinal, já foram comprovadamente editadas e reeditadas de acordo com a conveniência do poder. Mas o guarda-chuva nunca é muito grande, os manuscritos originais acabam vazando e por mais que os escribas “oficiais” tentem sustentar o discurso do rei, a plebe sempre descobre uma forma de ficar sabendo as reais intenções dos acordos celebrados na corte.

Trazendo a discussão para a província local, bem antes de a imprensa existir por essas terras, já era obsessão da elite o controle do que era comentado e conversado nas rodas da época. Mas em 1821, finalmente o governador maranhense, o marechal português Bernardo da Silveira, importou uma prensa de Londres e assim estava fundado o primeiro jornal impresso maranhense, O Conciliador. Na realidade o impresso servia apenas para reproduzir o discurso da coroa portuguesa no auge dos debates pela independência, tanto é que foi fechado assim que as tropas fiéis a Dom Pedro tomaram São Luís. Exaltado e celebrado como primeiro jornal da nossa história, talvez o maior “legado” do Conciliador, o breve, tenha sido criar um estilo jornalístico que sobrevive até hoje, a subserviência e sustentação ao poder vigente.

Avançando um pouco mais no tempo, mais precisamente em 1965, ano considerado o marco temporal da “queda” do vitorinismo no Maranhão, os registros oficiais mostram um movimento ideológico de renovação capitaneado pelo jovem José Sarney, que sob um pano de fundo chamado “oposições coligadas” pregava o fim de práticas coronelistas no Estado. Hoje a história mostra que tudo não passou de um mero discurso e na realidade, após o golpe de 1964 os militares tiraram o poder do velho Vitorino, que ficou do lado de João Goulart, deposto pelo regime de militar. Em represália, os milicos apoiaram o jovem Sarney, que foi eleito governador em 1965. Com a chegada do AI5, o então governador maranhense, foi para Aliança Renovadora Nacional, partido de sustentação dos militares, ficando por 20 anos na legenda.

A imprensa maranhense, é claro, fez sua parte e embarcou nessa nova roupagem sustentando a narrativa de um “Maranhão Novo”, livre do coronelismo, o Maranhão do libertador do povo, o Maranhão de José Sarney. Mas por ironia do destino décadas depois, o já velho oligarca acabou sendo vitima da mesma estratégia e assistiu a repetição do seu discurso personificado por Flávio Dino, que também chegou ao poder prometendo acabar com velhas práticas e apesar de ter feito um bom governo, ficou distante das promessas feitas das janelas do Palácio dos Leões. Qualquer semelhança com a posse de Sarney em 1966 é mera coincidência, a não ser por um profético Glauber Rocha que registrou imagens que fatalmente seriam o testemunho da realidade do Maranhão do passado, presente e futuro, além dos discursos.

No governo Geisel (1974 – 1979) os militares já começam a fazer a abertura, segundo eles, “lenta, gradual e segura”, mas não foi bem assim também. Em 1978 o AI5 é revogado, em 1979 é assinada a lei da anistia, em 1982 temos eleições diretas em todos os estados brasileiros. Podemos dizer que as eleições para presidente seria o passo seguinte e que os comícios com a grife “diretas já” foram a cereja do bolo para todos aparecerem bem na foto da novo Brasil, e quem estava no palanque encerrando com festa um período obscuro da história brasileira e tentando também enterrar os fantasmas do passado? O futuro presidente do Brasil na abertura.

Se prestássemos mais atenção na história perceberíamos a repetição de práticas politicas no Brasil e por tabela no Maranhão. Do interventor de Vitorino Freire ao Interventor de Flávio Dino, os personagens quando não são os mesmos, são os filhos dos mesmos, parentes dos mesmos, prepostos dos mesmos, seja na política, na imprensa ou na sociedade.

Hoje e mais uma vez estamos assistindo a tentativa de implantar um discurso único e pacificado no Maranhão. Um estado sem oposição com bombeiros e escribas prontos para esfriarem qualquer indício de rebelião. Fica a pergunta, por que dessa vez pode dar certo? Vamos tentar de novo, afinal é carnaval e pouco importa o lado certo da história.