Curso de Formação de Oficiais da PM-MA: indagações e ponderações

O Processo Seletivo de Acesso à Educação Superior (PAES) é o instrumento pelo qual a Universidade Estadual do Maranhão seleciona seus futuros alunos. Para a edição de 2023 inscreveram-se Mais de 33.029 candidatos que disputaram 4.320 vagas, entre UEMA e UEMASUL. Nesta quinta-feira (2), saiu o edital com o resultado final.

O que mais me chamou atenção foi o fato do Curso de Formação de Oficiais da Polícia Militar/Bacharelado em Segurança Pública (CFO PM-Ma/Bel. SP) ter sido, outra vez um dos mais concorridos, quer seja no sistema universal ou nas cotas; masculino ou feminino. Ao tomar conhecimento desse fato passei a indagar a mim mesmo e também alguns alunos e alunas, os/as quais eu sabia que fariam vestibular para o CFO-PM, sobre as razões desse fenômeno e sobre os motivos de sua escolha. Tudo isso sem qualquer rigor científico.

Todos confirmaram a minha hipótese inicial: “a possibilidade de receber um salário e ter estabilidade”. Caso seja aprovado para o Curso de Formação de Oficiais da PM-MA o aluno/cadete já começa a receber R$ 4 712,00 de remuneração mensal e receberá esse valor até a sua formação O curso tem duração de 3 anos e meio e ao final, o estudante passa a ser Aspirante, com remuneração mensal de R$ 7 972,00 e segue a carreira militar até Coronel. Entretanto, esse não é o único elemento motivador. Assustei-me quando ouvi os outros. Visto que não eram entrevistas e sim uma conversa informal eles se mostraram mais abertos a expor suas motivações. Ouvi coisas do tipo: ” Vou poder andar armado pra me proteger.” “Vou ser é mau!” “Vou dar é porrada, mesmo!” E, por aí vai.

Tais falas me levaram a promover elucubrações a respeito de uma possível relação entre o atual contexto de ódio existente no Brasil e o espantoso aumento da concorrência do CFO da PM-Ma. Nenhum dos jovens com quem conversei alegou motivos nobres para justificar sua escolha, exceto a já mencionada estabilidade. Ao contrário, todos (sem exceção) usaram argumentos fundamentados num senso deturpado de justiça. A arma de fogo se torna a ferramenta pela qual a justiça será aplicada. A cura da maldade é a própria maldade e a violência é uma forma de expurgar a violência.

O mapeamento dessa visão de mundo é de complexa construção. Talvez se localize na família, na escola, nas redes sociais, cursinhos, entre amigos ou na vilania natural do homem (segundo Hobbes).

O importante é que, cada vez mais, me preocupo com o tipo de gente que por muitos anos ajudei (direta ou indiretamente) a entrar na universidade. Não me refiro, agora, apenas ao CFO. Incluo Medicina, Direito, Engenharias, História, etc. Entendo que ninguém pode ser condenado por querer sobreviver.

Mas, entendo, também, que o papel da educação é mudar pessoas para que elas mudem o mundo. Construir indivíduos capazes de serem conscientes de si e de seu compromisso com uma pauta que valorize a vida, respeite os Direitos Humanos, a diversidade e pregue a cultura da paz. Em vez disso, o que vemos frequentemente é o estímulo ao individualismo e competição. Ambos são, invariavelmente, combustível para a intolerância e violência. Além de reforçarem as desigualdades sociais. Por isso, não abro mão da minha narrativa piegas, “petralha”, “comunista”, “esquerdista”, “bolivariana”, ou o que o valha.

Paulo Henrique Matos de Jesus é doutorando, mestre e graduado em História; pesquisador em História Social do Crime, Polícia, Aparatos de Policiamento e Segurança Pública

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  1. Dayse Waldorf

    A maioria faz pensando também no status e só piora se colocar essas questões por você já mencionadas.

    Querem fazer valer a força a todo custo.

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