Mical Damasceno: Fé preconceituosa e sem consistência teórica

A deputada bolsonarista Mical Damasceno, ainda embevecida pela pregação golpista e antidemocrática, apoia integralmente os terroristas que vandalizaram a república. Em discurso na Assembleia deu apoio aos acampamentos em frente aos quarteis, que contestam o resultado soberano das urnas; e no domingo foi mais longe, apoiou, através de suas redes sociais, a invasão das sedes dos três poderes em Brasília.

Dentro da teologia existem duas correntes de ensinamentos sobre a Bíblia, a mais difundida e romantizada prepara pessoas para serem pastores em suas comunidades, já a segunda é voltada para o estudo cientifico e acadêmico do livro.

Primeiro passo, é preciso desmitificar a Bíblia como livro mais antigo do mundo. Definitivamente não é. Comprovadamente é o primeiro livro impresso no mundo por Gutemberg, inventor da prensa na idade média.

Mas qual seria o livro mais antigo do mundo? Segundo estudos científicos recentes, Instruções a Churupaque, datado de 2.500 anos A.C. Livro da idade do bronze considerado literatura da sabedoria e continha provérbios e conselhos como “Não compre uma prostitua, ela é o lado afiado da foice” e “A calúnia é errada”. Conselhos bem atuais por sinal. Churupaque era filho de Ubartutu, da Suméria, atual região do Iraque.

Já o segundo livro mais antigo do mundo também vem da Suméria e foi escrito 2000 anos A.C, A Epopeia de Gilgamesh, ele contém textos muito parecidos com os que surgiram na Bíblia, posteriormente, como um homem bem parecido com Adão e a saga do dilúvio. Gilgamesh foi um Rei da dinastia de Uruk, a mais importante cidade da Babilônia, que deu origem ao atual Iraque.

Alguns séculos depois surgiu a Torá, ensinamentos enviados por Deus para Moisés durante o êxodo do seu povo escravizado no Egito. É considerada a Bíblia dos Judeus e o primeiro a possuir o Pentateuco, conjunto dos livros, Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio, livros idênticos aos que apareceram na Bíblia, séculos depois já com o novo testamento.

Portanto, o estudo científico da Bíblia afirma, sem sombra de dúvidas, que o livro é uma compilação de obras de grande relevância para a sociedade antiga e moderna.

Agora a corrente que prepara pessoas para atuarem como pastores em suas comunidades inclui nos estudos dos textos uma carga de fé e experiências pessoais para a interpretação do que está escrito na Bíblia. É uma espécie de fuga do discurso, atribuindo ao campo espiritual a resposta para o que não é compreensível nas escrituras.

Outra característica desse modelo é que adota o conservadorismo como bandeira de sustentação contra as reformas sociais que a humanidade sempre precisou atravessar, foi assim no passado e continua até hoje. Se antes queimavam em fogueiras quem pensava diferente, hoje a fogueira é virtual e midiática, como sessões de “exorcismo” em horário nobre na televisão.

A sociedade não vinha dando importância para o avanço e perigos dessa corrente de pensamento, mas nos últimos anos com o crescimento da extrema direita no Brasil, tendo em suas fileiras um exercito de “cristãos” conservadores defendendo publicamente pautas excludentes, preconceituosas e até maléficas para a sociedade, como a política de facilitação de armas de fogo, um retrocesso sem precedentes para o país.

Nesse campo extremista conservador está bem posicionada aqui no Maranhão a Deputada Mical Damasceno, que se não bastasse às tantas afrontas ao Estado Laico no decorrer do seu mandato, resolveu apoiar publicamente atos terroristas e antidemocráticos ocorridos em Brasília.

A falta de discernimento é tão grande, que a deputada não leva nem em consideração que ela foi eleita em primeiro turno pelo mesmo sistema eleitoral que agora ela contesta, sem nenhuma prova por sinal, a não ser a fé. A fé cega a faz acreditar que é preciso acabar com o comunismo no Brasil. Mas com uma desfaçatez digna de novela da Record, ela apoiava no Maranhão o único governador comunista do Brasil, Flávio Dino.

A deputada, que entre seus principais feitos está apagar a frase “fora Bolsonaro” escrita na ponte José Sarney e um projeto de lei de remissão de pena para detentos que lerem a Bíblia; uma verdadeira afronta à constituição e a laicidade do Estado; mas pasmem, a lei foi aprovada por unanimidade na Assembleia, porém suspensa pela justiça a pedido do Ministério Público. Ou seja, nós contribuintes pagamos o salário de uma deputada para ela perder tempo e gastar nosso dinheiro em vão com rompantes contra o Estado Democrático de Direito.

Está circulando uma petição pública proposta pelo professor Wesley Sousa pedindo a cassação da Mical Damasceno. A Assembleia Legislativa deveria se posicionar e punir a deputada com a mesma intensidade que fez ao caçar o título de cidadão maranhense concedido por unanimidade pela casa a Anderson Torres. A luta do professor é digna, porém, não prosperará, afinal, um parlamento que era para ser um defensor da democracia não vai comprar uma briga com uma “ legítima representante escolhida” por Deus na sua região.

 

 

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  1. Dayse Waldorf

    É como citam na franquia de Harry Potter:

    “Tempos sombrios, não há como negar”.

    E acrescento, tempos de intransigências!

    Difícil!

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