Está em curso no Maranhão, um grande plano de unidade institucional. A classe politica, o judiciário, o ministério público e é claro, a imprensa, que não poderia ficar de fora desse grande “blocão”. Porém, mais uma vez faltou a fantasia para o povo entrar no camarote.
Num passado recente, o Brasil ficou escandalizado com a frase do ex-ministro do meio ambiente Ricardo Sales dita numa reunião ministerial “que era preciso aproveitar que a imprensa estava voltada para a Covid passar a boiada para as reformas infralegais.” A indignação foi geral, a imprensa então foi pra cima do ex-ministro com gosto de gás. A classe politica que estava na oposição na época fez festa, foi um festival de cards no instagram condenando a fala. Merecidos por sinal.
Vários atos infralegais foram cometidos por Ricardo Sales, como a liberação do garimpo em terras indígenas que só vieram a tona porque no âmbito federal é praticamente impossível ter uma unidade total, a não ser em ditaduras é claro.
Trazendo a discussão para o Maranhão temos alguns atos que podem facilmente ser considerado infralegais e que pelo visto não chocam nem a classe politica e muito menos boa parte da imprensa, que além de mascarar, acaba contribuindo para normalizar tais atos.
Um desses exemplos é o caso claro de nepotismo no governo do Estado onde o sobrinho do governador Daniel Brandão foi nomeado para o cargo de secretário de monitoramento de ações governamentais. A súmula vinculante do Supremo Tribunal Federal aprovada por unanimidade veda a contratação de parentes até terceiro grau em cargos de confiança que está proibida nos três poderes, nas esferas federal, estadual e municipal. Apesar de ser uma decisão máxima do STF do implacável Alexandre de Moraes, por aqui fizeram de conta que não sabiam e ignoraram, nem a classe politica, nem o ministério público e muito menos a “imprensa”, salvo alguns poucos jornalistas é claro.
Essa semana outro ato que também pode ser considerado “infralegal foi normalizado, a indicação do mesmo Daniel Brandão para ingressar no Tribunal de Contas do Estado, basicamente, o sobrinho vai fiscalizar o governo do Tio, melhor impossível. Como prêmio, um salário vitalício aos 37 anos de idade. Nada mal, não é verdade?
Procurei manchetes condenando essa indicação em veículos de imprensa que foram pra cima Ricardo Sales na época, mas não encontrei praticamente nada, salvo poucas exceções é claro. O que encontrei foi a normalização alegando que a indicação não teve influência do executivo e sim uma decisão com autonomia da assembleia, essa mesma assembleia que cassou o titulo de cidadão maranhense de Anderson Torres (que apoiou os atos de vandalismo em BSB), fechou os olhos para as imagens do sobrinho do governador na cena de um crime a luz do dia. Aliás, sobre esse caso, ninguém fala mais nada, assunto encerrado. Tudo em prol da unidade.
Essa unidade é tão junta que até a liberação, um dia antes da indicação do de Daniel Brandão para o TCE, de 300 mil Reais para cada deputado fazer carnaval em suas bases foi normalizada. Na badalada coletiva do governador não se ouviu um questionamento sequer sobre os municípios que não apoiaram os 42 deputados como teriam apoio verbas para fazer o carnaval? Será que elegemos parlamentares ou donos de “blocos” carnavalescos? Não sabemos por que a implacável imprensa maranhense não prestou atenção nesses detalhes, quer dizer acho que até sabemos a motivação, mas não é de bom tom opinar sobre as responsabilidades jornalísticas individuais. Nosso questionamento é sobre a imprensa em geral, da qual fazermos parte, por isso fazemos questão de deixar registradas aqui essas perguntas.
Essa unidade parece ser mesmo poderosa e tem acomodado todo mundo. Até o também implacável MP, que tem cancelado carnavais em cidades pelo maranhão alegando desperdício de dinheiro público, parece não ter feito a conta que o Estado vai gastar quase 13 milhões para os deputados gastarem da forma como querem nesse carnaval; desse jeito até a deputada Mical caiu na tentação da folia carnavalesca.
Enfim, como o período é de alegria, os blocos estão passando pela avenida, uns mais pobres, outros muito ricos, mas essa é uma festa de união que o povo fica fora dos camarotes. Ei, corre que chegou a hora do Grêmio Recreativo Unidos Pelo Maranhão desfilar; o enredo deste ano é “nem Jornal, Nicolau e nem Mical seguram o carnaval”. Tragam a maisena, já tem água para lavar o rosto jorrando na passarela.
Dayse Waldorf
Excelente! Excelente!