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Braide manda mais um para a “Fogueira das Vaidades”

Um olhar sobre a notícia

Para analisar com mais profundidade essa crise na Secult é preciso relembrar a demissão na Semcas, onde 90 servidores foram demitidos por suspeitas de favorecimento em contratos no valor de R$ 1.7 milhão com a empresa AD Infinitum, que ganhou quatro pregões para fornecer fraldas descartáveis, alimentos perecíveis e não perecíveis.

A crise recente na Secult traz uma comparação no mínimo curiosa e inversamente proporcional à força aplicada na Semcas. O Prefeito Eduardo Salim Braide deixa claro que não tem pudor ao se colocar de fora de um problema que era de seu total conhecimento.

A empresa Juju e Cacaia – Tu és uma Benção foi a única interessada e, consequentemente, selecionada para um chamamento público para realizar o carnaval em São Luís, pelo valor de R$6.9 milhões. A tramitação foi muito rápida, sem prazos e burocracia, quase na instantaneidade de um milagre ou um chamamento divino, uma verdadeira benção.

O instituto, que é uma benção, alega estar tudo dentro da normalidade e acredito que deva estar mesmo, afinal Juju e Cacaia já vem trabalhando normalmente com a prefeitura, como no contrato firmado com a Fundação do Patrimônio Histórico no valor de R$798.000,00. O instituto comandando por Katia Bógea pretende erguer um monumento em homenagem ao Complexo Cultural do Bumba-Meu-Boi do Maranhão. Dessa forma, presume-se que teremos um boi de 800 mil reais na avenida Vitorino Freire e qualquer semelhança com o Touro de Ouro do Centro Histórico de São Paulo, será mera coincidência.

Outro dois contratos da empresa Juju é uma benção chamam atenção. Em junho de 2023 a Secult pagou o valor de R$ 370 mil Reais, através de uma emenda da vereadora Concita Pinto para a realização do projeto Noites de São João, porém nas redes sociais do instituto, nesse período só aconteceu o pequeno evento denominado “Arraiá da Juju”.

Em outro pagamento, dessa vez feito pela SECMA, no valor de R$300.000,00, para realização do São Luís Gospel, com indicação de emenda do deputado Fernando Braide, que é irmão do Prefeito, muita coincidência não é verdade?

Agora o que chama mais atenção é o julgamento do Prefeito nos dois casos. Na Semcas, ele fez o raspa demitindo noventa servidores por suspeitas em contratos de R$1.7 milhões, contratos com licitação, inclusive. Já no recente escândalo da Secult, onde os valores são quatro vezes maiores e passam de R$ 8 milhões, ele só demitiu apenas três pessoas, o secretário, a chefe de gabinete e o analista jurídico. A chefe de Gabinete já disse em entrevista que o prefeito sabia de tudo e a julgar pelos pagamentos anteriores sabia mesmo.

Porém, essas demissões não explicam os motivos dos superfaturamentos dos cachês e também não explica como foi feito o pagamento de artistas nacionais que só se apresentam se receberem antecipado. Será que Joelma tocou sem receber a benção de Juju e Cacaia?

Visivelmente constrangido, o Prefeito tenta desviar o foco jogando na fogueira apenas quem já considerava um empecilho para o modelo que já vinha sendo aplicado na Secult, desde o ano de 2022 , onde deu poder a pessoas que não conhecem nada da nossa cultura, tendo como experiência apenas produzir grandes eventos de forró, axé e similares. Mas com o mercado privado em baixa, a “solução” foi se agarrar no poder público vendendo a ilusão de que o prefeito deve ser um mega produtor  cultural subindo ao palco como se fosse um pop star, para isso é claro, é preciso pagar caro, o que demonstra ser apenas um detalhe quando a origem é de verba pública. Enquanto isso a classe artística que até hoje espera a volta do Circo da Cidade e do pagamento da lei Paulo Gustavo segue sendo ignorada pelo prefeito que prometeu em campanha agir diferente.

Para Marcos Duailibe deve ficar a lição de que o sonho de ser protagonista na área que sempre atuou se transformou em queimação e a vaidade que ronda quem está no topo traz consigo o que há de pior nas relações pessoais, a traição.

 

Ser policial no Brasil é para os fracos. O negócio é ser nos EUA…Nem que seja fake

O senador Marcos do Val (PODEMOS-ES), notório não por seu protagonismo nos debates mais relevantes da política nacional, mas por ser um grande, enorme, propagador de fake News e outras patacoadas da extrema-direita brasileira, aprontou mais uma das suas nos últimos dias, dizendo, desdizendo, não-dizendo, que o ex-presidente de triste memória o teria “coagido” (palavras dele) a gravar uma suposta conversa comprometedora com o presidente do TSE, Alexandre de Moraes.

É público e notório que do Val foi catapultado para a política pela onda bolsonarista, mas antes disso ele já fazia sucesso na TV e nas redes sociais como um brasileiro “instrutor da SWAT”. Fardado e tudo. Ele ganhou projeção, em 2008, quando apareceu no Fantástico, na condição de especialista em sequestros, criticando o desempenho das Forças de Segurança do Estado de São Paulo em relação ao caso Eloá. Daí em diante ele virou figurinha fácil em diversos programas de TV e virou até capa de livro.

Acontece que, segundo matéria publicada no portal Forum (no final haverá uma lista de links úteis), Marcos do Val nunca foi policial na vida. Tampouco integrante da SWAT ou “especialista em sequestro”. Se muito, foi “instrutor de imobilização” de um curso terceirizado e oferecido para policiais do Texas, nos Estados Unidos.

Em 2014 ocorreu na Assembleia Legislativa do Estado do Maranhão um “Seminário Internacional de Segurança Pública”. Diversas autoridades participaram do evento que em termos práticos não teve nenhuma relevância para as discussões em torno do avanço da criminalidade violenta em nosso estado. Porém, o ponto alto do evento foi a “palestra” (parecia mais um coach) de um sujeito chamado Marcos Bonfim (imigrante brasileiro nos Estados Unidos), que se apresentou como chefe do departamento de polícia da cidade de King, na Carolina do Norte (EUA). Eu, assim como muitos outros, tietei o chief Bonfim. Até tirei uma foto com o sujeito.

Eis que ontem me deparei com uma matéria antiga, publicada em 07/11/2018, no portal “O Tempo”, intitulada “BRASILEIRO RADICADO NOS EUA SE CANDIDATA A SECRETÁRIO DE SEGURANÇA E CAUSA MAL-ESTAR”. Ao ler a matéria lembrei do dito chief e da presença dele em São Luís e resolvi buscar maiores informações. Foi, então, que encontrei outras matérias sobre ele. Mas, a maioria falava de uma acusação que ele vinha sofrendo de não ser policial coisa nenhuma e sim funcionário de uma empresa de segurança privada. Em suas redes sociais o “chief Bonfim” dá palestras, dicas e orientações sobre procedimentos e rotinas de policiamento praticados pelas polícias norte-americanas. Até aí, tudo bem!! O problema é ele se apresentar como oficial de polícia.

Desconfiado dessa situação toda decidi fazer o que um pesquisador faz. Busquei as fontes primárias a partir de algumas informações sobre qual departamento de polícia ele dizia ser. Primeiro entrei em contato via Messenger com o Depto. de polícia de King (NC) e perguntei se ele era policial naquele departamento. A resposta foi que não. Depois, eu li uma matéria sobre o fato dele ter sido flagrado colando no teste no Depto. de polícia de Charlotte-Macklenburg e por isso foi expulso. Resolvi entrar em contato também com este Depto. de polícia e a resposta foi a mesma.

Moral da História. O sujeito veio pra São Luís com tudo pago, deve ter recebido um cachê gordo; chegou todo uniformizado e tirou onda de tira americano e passou a perna em todo mundo. E eu de besta ainda me iludi achando que estava “crente e abafando”.

A atração que diversos segmentos da sociedade brasileira possuem em relação às forças policiais de países como a Europa e os Estados Unidos é compreensível, especialmente quando tais forças são bem sucedidas no combate à violência e ao crime em suas mais diversas modalidades. Eu diria até que a circulação transnacional de saberes e práticas de policiamento, o fluxo global de técnicas investigativas, métodos de identificação de criminosos, procedimentos policiais preventivos e ostensivos, são essenciais para a melhoria do desempenho das forças policiais brasileiras e das ações de segurança pública. Sobretudo em relação à diminuição da letalidade policial e no aumento dos índices de resolutividade dos homicídios. Desde que não seja uma mera transferência de modelos de um centro produtor para uma periferia receptora.

O problema é quando esse fascínio é cego e burro, se limitando a motivações entusiasmadas modernizantes de uma elite burocrática policial ou de uma multidão que clama por medidas excessivamente punitivistas e que se restringe a copiar modelos de outros países, correndo o risco, muitas vezes de cairmos na esparrela dos “do Val e chief Bonfim” da vida.

Por Paulo Henrique Matos de Jesus

(Doutorando e mestre em História; pesquisador em História Social do Crime, Polícia e Segurança Pública)

 

Links úteis:

https://www.otempo.com.br/politica/aparte/brasileiro-radicado-nos-eua-se-candidata-a-secretario-de-seguranca-e-causa-mal-estar-1.2064714

https://fenapef.org.br/45537/
https://www.braziliantimes.com/comunidade-brasileira/2019/12/30/apos-acusacao-de-ser-falso-policial-marcos-bonfim-denuncia-jones-sathler-ao-ice.html

https://www.google.com/amp/s/www.acheiusa.com/Noticia/erramos-homem-que-pede-boicote-ao-brasil-nao-e-chefe-do-king-police-department-16869/amp/

Os corruptos e a corrupção: são gerados aonde?

Até onde vai a percepção da corrupção? Até a taquara rachada de um juiz sem dicção ética? Até uma porteira extensa onde passam uma, duas, três boiadas? Até o extermínio de povos originários sob a exploração babilônica da floresta?

Há um consenso entre os pesquisadores que é difícil medir a corrupção.  Algo parecido com contar grãos de areia do deserto do Atacama. Mas, segundo os pesquisadores, como os da Transparência Internacional, órgão mundial que pesquisa a corrupção em quase 180 países, é possível medir a “percepção de corrupção”.

Não a “percepção de corrupção” dos moradores de Maringá, ou São Félix do Xingu, ou de Zé Doca. Mas a percepção analisada por especialistas na área. Daí se tira o Índice de Percepção da Corrupção (IPC). O Brasil só tem caído, nos últimos anos. Imagino como seria o Maranhão do Padre Vieira se se desse uma atenção especial para o estado da letra M.

Aqui temos todo tipo de criminoso, deveras protegido por seus parceiros influentes regularmente distribuídos entre os poderes institucionais brasileiros. Desde os mais altos escalões, com seus sobrenomes quatrocentões, até os reles barnabés que recebem uns “cem conto”, pra liberar uma moto sem placa e sem número de chassis, do pátio do órgão de trânsito.

Haja régua, diria um engraçadinho. Segundo a Transparência Internacional o Brasil vive um “retrocesso sem precedentes” nas instituições, nos últimos anos, em especial nos últimos 4. Neste que é o principal índice no mundo que trata do tema corrupção, mostra que o Brasil  caiu cinco pontos e 25 posições no ranking desde 2012.

Na escala que vai de 0 a 100, o Brasil marcou 38 pontos, no ano passado, ficando na 94ª colocação entre os 180 países avaliados, empatado com Etiópia, Marrocos e Tanzânia. Infelizmente estamos mais próximos do fim da fila, onde estão Somália (12 pontos) e Síria (13 pontos) do que dos primeiros colocados Dinamarca ( 90 pontos) e Nova Zelândia (87 pontos).

Na média Global, o índice fica em 43 pontos, mesma média para América Latina e Caribe, ou seja, o Brasil está abaixo das médias mundiais e regionais dos vizinhos e bem longe da média de 53 pontos dos países do G20, que não são nenhum exemplo de honestidade.

Segundo o relatório da Transparência Internacional, um dos itens apontados como grande vilão na derrocada brasileira seria o famigerado Orçamento Secreto, avaliado como o “maior esquema de institucionalização da corrupção que se tem registro no Brasil”.

Outros elementos que levaram o país às sombras da corrupção seriam: a pulverização da corrupção nos municípios; e a distorção do processo eleitoral, este último um fertilizante para populistas espertalhões e corruptos de maneira geral se darem bem no processo. O resultado está aí: foram eleitos para o Congresso Nacional nomes que seriam barrados pelo próprio Diabo.

Realidades Regionais

Antes de morar no país, se mora no município, no estado. Essas realidades são microcosmos da situação avaliada pela Transparência Internacional. E os calços, as barricadas, as baterias antiaéreas são as mesmas e muitas. Das centenas de processos por improbidade administrativa iniciados pelo Ministério público, quantos tiraram um prefeito do cargo? Quanto dinheiro foi devolvido?

Houve um escândalo na Pasta da Saúde municipal durante a pandemia de Covid-19, cadê o processo? Um crime de morte aconteceu na presença de um edil e um secretário de estado, no ano passado, numa situação envolvendo nuvens extremamente nubladas. Cadê o processo?

Um ministro maranhense, essa semana, foi alvo de reportagens que trazem denúncias vergonhosas. Para onde vão as denúncias e as consequências delas? Vão pra um julgamento futuro, pra daqui a 30, 40 anos… Ou para o ralo, como acontece com quase tudo no país que mira a prisão de corruptos.