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Futebol, política e carnaval: a realidade que não queremos ver

Assistimos diariamente uma enxurrada de “noticias” sobre as coisas que acontecem e não acontecem no Maranhão.

Somos bombardeados diariamente por manchetes que destoam das imagens e fotografias, além de narrativas incoerentes que num passe de mágica querem transformar vantagens politicas pessoais em benefícios para a população, entre tantos exemplos.

Pegando um pouco da referência à mágica, lembram-se do grande Houdini? Começou a carreira fazendo pequenos truques, mas passou a ser confrontado com a realidade e teve que direcionar seu talento de ilusionista para o escapismo, se tonando um dos melhores do mundo até hoje em dia. Muitos não sabem, mas Houdini também ficou conhecido como flagelo dos falsos espiritas ao expor mágicos fraudulentos em sua época. Qualquer semelhança com o Mister M não é mera coincidência, lembram da voz do Cid Moreira anunciando o inimigo número 1 dos mágicos? Pois é, chega uma hora em que o milagre precisa ser revelado e exposto que não existe mágica, o máximo que pode acontecer são truques bem feitos que mascarem a verdade.

Mas será que o público não gosta mesmo de ser enganado? Para muitos é melhor viver com a esperança do que encarar a realidade, mesmo que seja distópica, infelizmente.

É justamente nesses lapsos que aparecem e crescem os “salvadores da pátria”. E quem dera que fossem o utópico Sassá Mutema da novela das oito, no nosso caso é melhor fugir do romance de Lauro Cesar Muniz e recorrer a uma passagem da obra original de Gonçalves Dias, I Juca Pirama.“ São rudes, severos, sedentos de glória, já prélios incitam e já cantam vitória”.

Como a vida sempre imitou a arte ou vice versa, estamos produzindo uma série de três artigos essa semana que antecede o carnaval onde vamos dar o nosso ponto de vista sobre a crise que assola o Moto Club, o Momento de unidade política do Maranhão e claro o nosso carnaval sem matéria prima, tipo importação.

A ditadura do discurso unificado

“Desde os primórdios até hoje em dia, o homem ainda o faz o que o macaco fazia” já lembravam os Titãs tempos atrás.

Pode até parecer piegas citar a letra de uma música num texto, mas é preciso levar em conta que fomos doutrinados a confiar na história, não só a dos registros “oficiais”, que por sinal, já foram comprovadamente editadas e reeditadas de acordo com a conveniência do poder. Mas o guarda-chuva nunca é muito grande, os manuscritos originais acabam vazando e por mais que os escribas “oficiais” tentem sustentar o discurso do rei, a plebe sempre descobre uma forma de ficar sabendo as reais intenções dos acordos celebrados na corte.

Trazendo a discussão para a província local, bem antes de a imprensa existir por essas terras, já era obsessão da elite o controle do que era comentado e conversado nas rodas da época. Mas em 1821, finalmente o governador maranhense, o marechal português Bernardo da Silveira, importou uma prensa de Londres e assim estava fundado o primeiro jornal impresso maranhense, O Conciliador. Na realidade o impresso servia apenas para reproduzir o discurso da coroa portuguesa no auge dos debates pela independência, tanto é que foi fechado assim que as tropas fiéis a Dom Pedro tomaram São Luís. Exaltado e celebrado como primeiro jornal da nossa história, talvez o maior “legado” do Conciliador, o breve, tenha sido criar um estilo jornalístico que sobrevive até hoje, a subserviência e sustentação ao poder vigente.

Avançando um pouco mais no tempo, mais precisamente em 1965, ano considerado o marco temporal da “queda” do vitorinismo no Maranhão, os registros oficiais mostram um movimento ideológico de renovação capitaneado pelo jovem José Sarney, que sob um pano de fundo chamado “oposições coligadas” pregava o fim de práticas coronelistas no Estado. Hoje a história mostra que tudo não passou de um mero discurso e na realidade, após o golpe de 1964 os militares tiraram o poder do velho Vitorino, que ficou do lado de João Goulart, deposto pelo regime de militar. Em represália, os milicos apoiaram o jovem Sarney, que foi eleito governador em 1965. Com a chegada do AI5, o então governador maranhense, foi para Aliança Renovadora Nacional, partido de sustentação dos militares, ficando por 20 anos na legenda.

A imprensa maranhense, é claro, fez sua parte e embarcou nessa nova roupagem sustentando a narrativa de um “Maranhão Novo”, livre do coronelismo, o Maranhão do libertador do povo, o Maranhão de José Sarney. Mas por ironia do destino décadas depois, o já velho oligarca acabou sendo vitima da mesma estratégia e assistiu a repetição do seu discurso personificado por Flávio Dino, que também chegou ao poder prometendo acabar com velhas práticas e apesar de ter feito um bom governo, ficou distante das promessas feitas das janelas do Palácio dos Leões. Qualquer semelhança com a posse de Sarney em 1966 é mera coincidência, a não ser por um profético Glauber Rocha que registrou imagens que fatalmente seriam o testemunho da realidade do Maranhão do passado, presente e futuro, além dos discursos.

No governo Geisel (1974 – 1979) os militares já começam a fazer a abertura, segundo eles, “lenta, gradual e segura”, mas não foi bem assim também. Em 1978 o AI5 é revogado, em 1979 é assinada a lei da anistia, em 1982 temos eleições diretas em todos os estados brasileiros. Podemos dizer que as eleições para presidente seria o passo seguinte e que os comícios com a grife “diretas já” foram a cereja do bolo para todos aparecerem bem na foto da novo Brasil, e quem estava no palanque encerrando com festa um período obscuro da história brasileira e tentando também enterrar os fantasmas do passado? O futuro presidente do Brasil na abertura.

Se prestássemos mais atenção na história perceberíamos a repetição de práticas politicas no Brasil e por tabela no Maranhão. Do interventor de Vitorino Freire ao Interventor de Flávio Dino, os personagens quando não são os mesmos, são os filhos dos mesmos, parentes dos mesmos, prepostos dos mesmos, seja na política, na imprensa ou na sociedade.

Hoje e mais uma vez estamos assistindo a tentativa de implantar um discurso único e pacificado no Maranhão. Um estado sem oposição com bombeiros e escribas prontos para esfriarem qualquer indício de rebelião. Fica a pergunta, por que dessa vez pode dar certo? Vamos tentar de novo, afinal é carnaval e pouco importa o lado certo da história.