Relembrando meus tempos de “estudante secundarista” da Escola Técnica Federal do Maranhão (ETFMa) me veio à mente uma possibilidade muito plausível: as facções de hoje podem ter alguma relação, ainda que microscópica e indireta, com as gangues de outrora. Por isso decidi produzir essa série de reflexões. Nelas vou tentar estabelecer um nexo entre uns e outros. Para tanto, ora irei recorrer ao meu “baú de memórias”, ora ao trabalho de pesquisa do Historiador. No sentido inverso da frase: qualquer coincidência com minha própria vivência é mera semelhança.
Aqui em São Luís essas gangues/galeras/facções surgiram nos anos 80, muito ligadas à cultura do Hip Hop e das gangues americanas apresentadas de forma caricaturada através de filmes como “Território Inimigo”, “Colors”, “Breakdance”. No primeiro momento, essa galera se reunia nas praças Deodoro e Gonçalves Dias pra gazear aula, bater papo, fazer “roda de break”, namorar, “fumar um”, “tomar licor de menta” “catuaba” ou “Vinho São Braz” (furtado da Lusitana em frente à Embratel ou do Confiança da Rua Rio Branco), cometer pequenos delitos (furto, agressão, porte de arma branca…) e brigar.
Os grupos se organizavam conforme o bairro/região da cidade ou afinidades pessoais e pela necessidade de pertencimento. Nesse ambiente as rivalidades e o processo de coisificação do outro são inevitáveis. Essas rivalidades eram agravadas nas festas/boates (Casino Maranhense, Clubão da Cohab, Associação do Cohatrac, KGB, etc).
No Sistema Prisional de São Luís não tenho conhecimento de algum grupo anterior a esse período. Entretanto, nos anos 80/90 os apenados usavam a mesma estratégia de agrupamento usada nas ruas, ou seja, por bairro/região ou por afinidade, como estratégia de sobrevivência, organização e controle da economia delinquente dentro do mundo intramuros.
Paulo Henrique Matos de Jesus é doutorando, mestre e graduado em História; pesquisador em História Social do Crime, Polícia, Aparatos de Policiamento e Segurança Pública.
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