Assistindo à entrevista do vice-governador Felipe Camarão ao jornal O Imparcial a impressão que fica é que ele se tornou um incômodo e um percalço no rumo que o brandonismo planejou dar no destino do estado.
Uma das coisas que Camarão afirmou é que nunca se afastou de Brandão; Brandão que se afastou dele e que, nos 69 dias que esteve como governador nunca tomou nenhuma atitude que desabonasse ou atrapalhasse o titular. E também que cumpriu todas as missões que lhes foram atribuídas, como vice-governador ou como secretário.
Uma das belezas da democracia é a possibilidade da alternância do poder, da mudança de nomes, de ideias, de rumos, de vontades, em suma, de inovações. Digo possibilidade por que o que temos notados é sempre um volume de decisões parlamentares que acomodam os que ali estão, para que sempre estejam. Umas das últimas é esse volume gigantesco de recursos do estado brasileiro jogado no colo de caciques partidários para que montem comodamente seus esquemas de reeleições do seleto grupo que comanda as siglas partidárias.
Mas, ocasionalmente, este não é o caso do Maranhão. Aqui, o que há é a quebra de um pacto, de um acordo, que trabalhava inclusive esse processo de mudança, de renovação de nomes, talvez até de ideologia, uma vez que o ex-governador Flávio Dino, um político nascido e criado na esquerda, entregou o governo, para um político nascido e criado na direita, ou seja, Carlos Brandão. Isto, respeitando um pacto feito com o amplo grupo que o levou ao Palácio dos Leões em 2014.
Aqui no Maranhão, há uma quebra de acordo em nome de um projeto, não de um grupo político, mas de um pequeno grupo familiar. Um regresso ao Brasil do começo do século XX, ou, quem sabe até, do Brasil imperial, monarquista. Este projeto familiar do governador Brandão vai de encontro ao projeto maior do grupo que o levou ao poder, ou seja, grupo que faz o entorno do presidente Lula. Brandão, com suas escolhas, demonstra, primeiro, que esteve neste grupo ao acaso, e, em seguida, que em nada este grupo o interessa, uma vez que seus sinais são sempre em direção à extrema direita. Leia-se a declaração do deputado Bolsonarista Yglésio Moyses dizendo que Brandão “não é do grupo do Lula”.
Ao contrário, segundo sua entrevista ao Imparcial, Felipe Camarão diz que: “Sou candidato do time do 13, do time do Lula.” E as atitudes do vice-governador em todo seu histórico demonstra isso. Porém, de forma, humilde, afirma: “Estou disposto ao diálogo, mas a candidatura é irreversível”.
Quem está sentado na cadeira de governador, com a caneta na mão é o Carlos Brandão. Mas mandato tem fim e não está longe, independente de ser em abril ou dezembro. Segundo muitos analistas, Brandão foi estendendo seu projeto familiar até o ponto em que fica difícil abrir o diálogo, ainda que o futuro contenha uma possibilidade de um abismo escuro e ninguém segura o trem da História, pesado como um Buraco Negro.
No meio de hipóteses estapafúrdias distribuídas por locutores do caos, advindas desse bloco sombrio que se transformou o brandonismo, Felipe Camarão mantem-se reto e cartesiano: “Eu não renuncio em nenhuma hipótese ao meu cargo de vice-governador, porque fui eleito para ele”. E a luz no fim do túnel é aquele trem…. Resta a quem está nos trilhos escolher se vai ser passageiro ou outra coisa.
