Certa vez… Perguntei a um parlamentar por que ele havia votado a favor da concessão de uma honraria a uma pessoa totalmente avessa a todo e qualquer contexto que envolvia a situação, inclusive do próprio parlamentar. A resposta dele foi muito simples: havia um consenso entre os parlamentares de sempre aprovar aquele tipo de proposição feito por qualquer um deles.
Daí os vexames que estamos acompanhando nesses dias turbulentos. Primeiro foi a retirada do título de cidadão maranhense ao ex-ministro da justiça de Bolsonaro, agora suspeito de crimes contra a segurança nacional, Anderson Torres. E agora o deputado Ricardo Rios (PC do B) quer que seja revogada a Medalha Manoel Beckman, atribuída ao ex-prefeito de São Pedro dos Crentes Lahésio Bonfim.
Não importa a justeza dos motivos para estas cassações, ou o velho hábito brasileiro de promover o prêmio pela importância do premiado (que não é o caso aqui). Importa o equívoco das concessões. Quando se atribui uma honraria a oportunistas de plantão, se diminui a honraria.
Lembro uma das últimas entrevistas concedidas pelo escritor e dramaturgo Plínio Marcos (autor de “Barrelas”e “Navalha na carne”, entre outras), onde ele ironizava certas homenagens. Ele citou o agora ultrapassado “álbum de figurinhas” (nunca houve um álbum de figurinhas de escritores ou poetas ou intelectuais!). Ele dizia que se houvesse tal álbum ele seria das figurinhas “fáceis”, “sou sai essa merda”… Mas ele conclui dizendo que nunca quis ser figurinha, nem fácil, nem difícil…
Hoje, apesar da tentativa de ressurreição do álbum de figurinhas – pra variar, de jogadores da copa do mundo – assim como se tenta recuperar o vinil, o mundo já é um avesso de buraco-negro, com um “mundo virtual” mais real do que o rei; um mundo de “influenciadores digitais” – que sobem e descem com a mesma facilidade de uma pipa no vento forte, onde as influências reais, a da sabedoria, da experiência, do estudo, nada significam, até porque demoram e são difíceis de obter.
É mais ou menos o que ocorreu outro dia. Um digital influencer (um qualquer) comprou uma joia tão cara que contratou seguranças para acompanha-lo até uma casa onde faria uma festa pra comemorar a compra (?!). Lá na festa, outro miolo mole do staff dele fez uma dancinha com um fuzil de guerra dos tais seguranças e, lógico, publicaram nas “redes sociais”; foram todos parar na cadeia.
E certa vez… Perguntei a uma jornalista âncora de telejornal se iria entrevistar o Leonardo Boff, que estava em passagem por São Luís. E ela me respondeu: “Quem é Leonardo Boff?”. Enfim… Os filósofos brasileiros são o Karnal, o Cortela e o Pondé, o Leonardo Boff é só um padre comunista…
De certa maneira, num mundo de mais valia, mercado financeiro, ativos e inativos, a rede social oficial do digital influencer é como o chapéu do mendigo usado para coletar esmolas. Enfim, Plínio Marcos, nesse mundo de aluguel de chapéu de esmola para “mendigos pobres”, resta saber quem é o herói da “Jornada de um imbecil até o entendimento”.
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