Mayhem no Brasil, nazismo ou um falso Estado laico?

O país está passando por uma intensa ressignificação social. Movimentos importantes e necessários para reparação de erros históricos, datados e normalizados pelo conservadorismo de gerações passadas.

Saímos de um regime ditatorial há menos de 40 anos e parece que ainda não sabemos o que fazer com a nossa liberdade. Na transição da abertura politica no inicio dos anos 80 assistimos a explosão do movimento punk no Brasil, nessa época era comum nas vestimentas terem uma suástica nazista para chocar e de quebra alguns gritos homofóbicos em shows para empolgar o público. Isso não é suposição, há registros em vídeo sobre o que estou falando e hoje bandas grandes do gênero já admitiram e pediram desculpas por esses erros do passado, ainda bem.

Já no metal a principal bandeira sempre foi a luta contra o cristianismo e a opressão em torno de ditatura da fé cristã como pré-requisito para se ter uma boa conduta social. Assim como no movimento punk, era necessário causar um choque na sociedade para chamar a atenção e mais uma vez às camisetas com cruzes invertidas e ídolos cristãos dilacerados cumpriram seu papel.

Na primeira edição do rock in rio, a vinda de gigantes do rock para o Brasil gerou muita desinformação sobre o tema e era comum ver na época manchetes dizendo que o Ozzy era o autentico príncipe das trevas, o nome AC/DC significava Antes de Cristo/Depois de Cristo, o Iron Maiden carregava a marca do anticristo e o KISS eram os “Kavaleiros” a serviço de Satanás. Nessa época o Mayhem estava começando a carreira e eram influenciados pelos brasileiros do Sarcófago, banda que teve origem quando o Wagner saiu do Sepultura.

Pelo menos no Brasil essa guerra nunca saiu do campo ideológico e nem ganhou contornos de violência real, ficou apenas nas capas de discos e camisetas, enquanto que o outro lado dominante e conservador passaram a exibir na televisão exorcismos mentirosos para atrair mais fiéis.

Sobre o Mayhem, todos os fãs de metal conhecem a sua verdadeira história e das polemicas que se envolveram no inicio da carreira. O suicídio do primeiro vocalista, o flerte com ideias de supremacia do baterista ainda nos anos 80 e quatro igrejas queimadas na Noruega. Além é claro da passagem de Varg Vikernes pela banda substituindo Necrobutcher que saiu após Dead se suicidar e Euronomyous usar a foto do suicídio como capa de um EP da banda. Mas o Varg nazista e idiota assumido ficou pouco mais de um ano na banda sendo preso em 1993 pelo assassinato de Euronymous, por achar que esse não queria pagar os direitos pelo álbum da sua banda principal, o Burzum.

Depois desse episódio a banda se reformulou e continua até hoje levando seu black metal a todos os lugares do mundo, países como Israel por exemplo, vale ressaltar que em toda a sua discografia o Mayhem não tem uma letra sequer que faz apologia ao nazismo.

Mas por que toda essa polêmica então?

Avançando no tempo até os dias polarizados de hoje, está claro que o Brasil ficou refém da classe política que essencialmente se alimenta de polemica e bastou uma postagem equivocada de um professor que usou uma foto do inicio da carreira do baterista com uma suástica no braço, uma foto de um site de vendas de camisas na internet em que os clientes personalizam as camisas e uma foto de divulgação de um vídeo clip da banda em que a letra critica a ascensão do nazismo, ou seja, para quem se diz pesquisador esse professor parece não fez o trabalho direito, muito menos lembrou que o Mayhem já tinha tocado em Porto Alegre em 2018.

Essa postagem chegou ao deputado Leonel Radde que potencializou a desinformação engrossando o caldo sem checar devidamente a história da banda. Como estamos vivendo uma era em que as pessoas leem apenas as manchetes e acham que já sabem tudo, foi o palanque perfeito para o tribunal de julgamentos nas redes sociais, onde se condena e cancela sem se aprofundar na busca pela verdade.

Apesar dos conselhos de alguns amigos para não me meter nessa polêmica, também deixo claro que não tenho procuração para defender a banda. Mas como organizei o MOA FESTIVAL em novembro do ano passado e uma das atrações foi Mayhem, alguns desses desinformados que utilizam as redes sociais para julgar sem base de conhecimento, tentaram associar o festival a práticas de apoio ao neonazismo. Pois bem, além do Mayhem tocaram no evento bandas como Garotos Podres, Dorsal Atlântica, entre outras que sempre tiveram suas bandeiras contra o fascismo e nazismo. Além disso, convivi com alguns membros da banda por alguns dias e tirando um incidente da bagagem extraviada do baixista que reclamou dizendo que esse era um problema de países de terceiro mundo, posso assegurar que banda foi altamente agradável por sua passagem por aqui. O vocalista Atila por exemplo, ficou encantado com a apresentação do Gangrena Gasosa e as religiões de matrizes africanas, inclusive queria ter ido num terreiro em São Luís para conhecer mais sobre essa cultura e depois do show ainda ficou alguns dias apreciando a cidade.

A verdade é que o heavy metal sempre se opôs ao cristianismo e nas oportunidades que o sistema tem de contra atacar ele o faz impiedosamente, ainda mais contra uma banda que ganhou notoriedade por queimar igrejas no passado, igrejas essas, diga-se de passagem, foram erguidas sobre monumentos da cultura pagã dos povos originários daquele país, mas com um detalhe, tais templos estavam vazios e não houve vitimas ao contrário da igreja/Estado que queimou milhares pessoas vivas acusadas de bruxaria sem nenhuma comprovação cientifica na época.

“É preciso observar que, em geral, o caráter de todo raciocínio metafísico e teológico é o de procurar explicar um absurdo por outro.”

Mikhail Bakunin

Anteriores

Tribunal de Justiça do Maranhão solicita reconhecimento nacional de Maria Firmina dos Reis

Próximo

Comunidade Tradicional em São Benedito do Rio Preto sofre atentado

  1. elayne kelline

    acho que tem que se entender logo que dentro do metal infelizmente tem espaço (e muito) pra muita porcaria se passar, porque meio que da uma liberdade a artística, mas ai a galera se passa meeesmo, e dos limites!!!! mano aonde ja se viu se vestir de nazista e queimar a estrela de davi mano?? milhares de vidas foram destruídas com essa merda.
    falam tanto de cristão porque destruiu muitas populações e religiões tbm, mas acha compreensível querer chocar com nazismo???
    que merda é essa :@

    • Então, esse show foi uma tour especial que eles fizeram para criticar os grandes ditadores, esse show que vc esta falando r o deputado usou, ele estava vestido de Chaplin inclusive chutando um globo terrestre. Em outro show ele aparece de Mussolini, entre outros, stalin e o último show da tour ele aparece de perna longa. Vc tem razão quando fala que muitas bandas adotam esses merdas e não podemos admitir isso. Porém no caso do Mayhem, esse disco é justamente o contrário, eles criticam a a ascensão do nazismo e de líderes totalitários, por isso a foto promocional eles vestidos de soldados.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *