A peleja entre o deputado Marcio Jerry e a deputada Júlia Zanata não pode ser analisada somente pelo prisma do que aconteceu na fatídica reunião da comissão de segurança pública e crime organizado ocorrida na semana passada em Brasília.
Não precisamos nem entrar no mérito do picadeiro criado pelos parlamentares ainda órfãos do bolsonarismo, até porque todos nós sabemos que o nível do debate entre o ministro Flávio Dino e atual oposição é abissal, restando apenas como alternativa para ala conservadora o já conhecido manual prático de falsear a verdade através das redes sociais.
Durante a algazarra que se transformou a reunião, a gritaria era geral com vários polos de conflitos, sendo a que causou toda essa polêmica foi a discussão acalorada entre a deputada sexagenária Lídice da Mata que estava sendo pressionada por vários homens, nesse momento a jovem parlamentar Júlia Zanata chama para si a pressão se achando no direito de confronta-la por também ser mulher. No vídeo é nítido o nervosismo de Lídice e ao perceber nível de alteração da colega, o deputado Marcio Jerry chega próximo ao ouvido de Zanata e fala, “respeite 40 anos de vida de vida pública” e se afasta em meio os gritos de fujão direcionados a Flávio Dino que ecoavam pelo plenário.
Houve tentativa de assédio? Claro que não. Na verdade Marcio Jerry saiu em defesa da colega Lídice da Mata, que inclusive foi liderança histórica do seu partido, o PC do B. Além disso, ficou claro no vídeo, que o deputado foi educado, porém incisivo ao falar no ouvido da deputada sem precisar gritar para ser ouvido em meios aos gritos na reunião da comissão.
Se estivéssemos sob um período de normalidade politica nesse país, essa pauta não teria se tornado uma polêmica, aliás, não teria virado pauta. Mas é ai que entra um detalhe importante para o momento que atravessamos e que tem sido preponderante para que não saiamos desse circulo vicioso que também é alimentado pela imprensa.
Estamos viciados em boatarias e falatórios, ficamos reféns do sensacionalismo barato como entretenimento e perdemos o interesse na discussão de pautas importantes que precisam ser tratadas como prioridade no Maranhão e no Brasil.
Analisando a cobertura de setores e profissionais da comunicação nesse episódio, ficou claro que o objetivo principal foi alimentar a polêmica e não importa, se é verdade ou mentira, se é justo ou não, o mais importante é a audiência e a busca insana por clicks.
É regra de qualquer profissional de imprensa fazer uma apuração detalhada antes de publicar qualquer matéria, agora imagine num claro embate ideológico como esse, onde o congelamento de um fragmento de uma imagem ecoou mais que o vídeo completo que é esclarece o fato sem deixar dúvidas. Além de que uma simples busca na história do deputado Marcio Jerry não encontraria nenhum indicio de tal prática.
Vale ressaltar também outro fator no mínimo intrigante e até mesmo contraditório não abordado por alguns meios de comunicação, que é a postura antifeminista da deputada Julia Zanata, mas que para criar essa embaraço acabou recorrendo ao discurso do feminismo em suas posições de ataque ao deputado comunista.
No final quase todos os envolvidos tiveram seus objetivos alcançados, a imprensa se alimentou bem da polêmica, a oposição tagarela que não deixa ninguém falar gerou mais uma fake news, a jovem deputada armamentista que apareceu semanas antes incitando a violência contra o presidente Lula ficou mais famosa. Agora já o deputado Marcio Jerry está injustamente no olho do furacão midiático e ainda vai precisar defender seu mandato enfrentando a hipocrisia ideológica de uma oposição que se diz conservadora.
E o Brasil pelo visto vai continuar mal dividido e com olhares meio tortos sobre valores que deveriam ser tão retos.
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