Um diálogo que em termos de segurança pública jamais deve ser ignorado Paulo Henrique Matos de Jesus* Jacqueline Muniz, antropóloga e professora do Departamento de Segurança Pública da Universidade Federal Fluminense (UFF) e profunda conhecedora dos problemas e da complexidade que envolvem o tema no Brasil, sofreu semana passada inúmeros ataques desqualificadores de sua competência. No cerne dos ataques está a velha e falsa concepção de que a gestão e produção do conhecimento segurança pública é monopólio das forças de segurança pública e do Direito. A diferença entre os…
UM POUCO DE HISTÓRIA
Paulo Henrique Matos de Jesus
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Doutor em História; Pesquisador em História Social do Crime, Aparatos de Policiamento e Segurança Pública;
Analista Técnico do Observatório da Criminalidade da Associação dos Delegados do Estado do Maranhão (ADEPOL-MA)
Paulo Henrique Matos de Jesus, especial para Os Analistas* A Prefeitura de São Luís anunciou a operação o de um sistema de videomonitoramento com reconhecimento facial — a chamada “muralha digital” — como reforço às ações da Guarda Municipal. O anúncio, feito nas redes, apresenta a tecnologia como capaz de cruzar imagens em vias públicas com bases de procurados e apoiar abordagens em tempo real. Em 24 de outubro de 2025, perfis oficiais e repercussões locais registraram a entrada em funcionamento do sistema, depois de promessa feita no fim…
Paulo Henrique Matos de Jesus*, especial para Os Analistas Nos últimos dias, São Luís mergulhou num circuito de pânico em que áudios e vídeos atribuídos a facções passaram a pautar deslocamentos, horários de aula e o humor coletivo. O enredo combina dois planos: acontecimentos violentos efetivamente registrados — tentativas de homicídio, tiroteios pontuais e prisões — e uma camada ruidosa de mensagens não verificadas que amplificou a sensação de colapso. Em entrevista, o secretário estadual de Segurança, Maurício Martins, reconheceu que houve ocorrências criminais na Grande Ilha, mas atribuiu a…
A categoria de análise chamada de mortes violentas intencionais (MVI) é composta pelas seguintes subcategorias: homicídio doloso, latrocínio, feminicídio, agressão seguida de morte e morte decorrente de intervenção policial. Conforme o portal do MJSP, através do SINESP (Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública) o Maranhão ocupa, em números absolutos, a 4° posição entre os estados com maior ocorrência de MVI do Nordeste. Por outro lado, observando a taxa por 100k hab (método de observação mais adequado) o estado possui a 2ª menor da região (21,1), entre os meses de…
São Luís se autointitula como “uma cidade cheia de lendas e mistérios”. Alguns desses “mistérios” se eternizaram no imaginário popular, enquanto outros nem tanto. Como exemplo destes “mistérios” esquecidos temos a morte do Joalheiro Galeotti/Galleotti. A cidade ainda avaliava os estragos provocados pela chuva torrencial da noite anterior quando a imprensa noticiou a descoberta do cadáver do conhecido joalheiro e dono da ótica e joalheria “Pêndula Maranhão” (Rua Oswaldo Cruz, n° 23). O corpo do joalheiro Galeotti/Galleotti, que morava em uma casa simples situada à Travessa 5 de outubro, no…
Executado a 21 de abril de 1792, o alferes Joaquim José da Silva Xavier, o “Tiradentes”, era um típico brasileiro que devido sua descendência portuguesa ingressou na tropa de linha como alferes (equivalente a 2° tenente) da 6.ª Companhia de Dragões da Capitania de Minas Gerais. Como ainda hoje é comum, Tiradentes exercia ao mesmo tempo a função militar e outras atividades: tropeiro, comerciante, minerador, contrabandista. E também tinha lá suas ambições pessoais. Não era rico, mas não era nenhum miserável. O inventário de seus bens revelou que ele era…
Paulo Henrique M. de Jesus O Golpe de 31 de março 1964 marcou o início da implantação no Brasil de um Estado de Segurança Nacional, fundamentado no autoritarismo, que vigorou por 21 anos (1964 – 1985) e estruturou-se, entre outras coisas, com base na utilização de diversos mecanismos de repressão e subjugação da sociedade. A violência policial, a elaboração dos Atos Institucionais (AI), censura, intensa perseguição aos opositores da ditadura, expurgos, cassação de mandatos, prisão, a criação dos Inquéritos Policiais Militares (IPM) e do Serviço Nacional de Informação (SNI), O…
Paulo Henrique Matos de Jesus Nenhum demérito das análises jornalísticas, mas com a intenção de buscar outra perspectiva de análise: o cenário que está sendo desenhado pra segurança pública no Maranhão, com qualquer que seja a indicação do governador Carlos Brandão para a pasta da Secretaria de Segurança Pública, entre os nomes cogitados, é preocupante. Em primeiro lugar, é necessário que façamos um balanço do perfil das pessoas que comandaram a pasta da SSPMA, no mínimo, nos últimos 35 anos. Em geral, são pessoas ligadas às forças de segurança. E…
Por: Paulo Henrique Matos de Jesus A ideia de pesquisar as lutas dos policiais militares pelo direito de ter direitos nasceu a partir da conversa que tivemos com alguns integrantes da polícia militar do Maranhão que em algum momento foram nossos alunos ou, até mesmo, colegas (de sala de aula, de corredores da universidade, mestrado, ofício da docência). Em uma dessas conversas um deles disse assim: “o policial não veio de Marte. A polícia é feita de gente e não de extraterrestres. Gente que tem educação básica, curso superior e…
*Paulo Henrique M. de Jesus A Constituição de 1988 manteve um perfil de policiamento essencialmente autoritário e fundamentado na repressão ao “inimigo interno”. Também ampliou o debate sobre os direitos humanos e o crime passou a ser visto em uma perspectiva de cunho social. Assim, houve a elaboração de filosofias, programas e práticas de policiamento mais próximas da sociedade com destaque para o policiamento comunitário ou de proximidade, inspirado tanto em experiências estrangeiras bem-sucedidas quanto na premissa constitucional que, em seu artigo 144, coloca a segurança pública como responsabilidade de…