quarta-feira, 29 outubro, 2025

Prof. Xico, especial para Os Analistas*

Paradoxalmente, um dos efeitos colaterais da denúncia de grampo envolvendo dois deputados federais e um alto comissionado do governo federal no Palácio dos Leões é a tendência de reforçar o PT como um dos polos mais governistas da base de Brandão, justamente quando o governador se desgasta cada vez mais por seu método de governar centrado na lógica familiar.

Três indícios sustentam esse paradoxo

O primeiro diz respeito às manifestações da Comissão Provisória em duas notas oficiais: na primeira, oferece solidariedade apenas ao deputado Rubens Júnior, sem contextualizar o episódio nem estender o gesto às demais vítimas do grampo; na segunda, ao apelar ao calendário partidário, busca inibir iniciativas e debates internos sobre uma candidatura petista ao governo do Estado em 2026.

O segundo indício está na posição do PSB e do PCdoB, que se retiraram oficialmente do governo e orientaram seus filiados com cargos a fazerem o mesmo. Para parte desses quadros de esquerda que desejam permanecer na gestão estadual, o PT passou a representar alternativa conveniente — o que tende a reforçar sua presença no núcleo governista.

Por fim, observa-se o aumento das declarações públicas de lealdade ao governador Carlos Brandão por dirigentes do PT e por secretários de Estado, titulares e adjuntos, filiados ao partido. Contudo, tudo indica que faltou combinar com a militância, que cada vez menos se reconhece nesse espelho iluminado pela mosca azul — metáfora do fascínio pelo poder que distancia o partido de seu projeto histórico de transformação social e da percepção de que a candidatura de Felipe Camarão ao governo do Estado representa a disputa concreta por um projeto político associado a Lula e voltado ao enfrentamento das desigualdades sociais.

Nesse cenário, o dilema se impõe: ou o PT reafirma sua vocação de formular e disputar projeto, ou será condenado ao silêncio obsequioso típico de quem renuncia ao protagonismo político em troca de posições e acessos a (im)mobilização dos eleitores. MOSCA AZUL!

  • Prof. Xico é jornalista e professor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA)
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