sexta-feira, 24 outubro, 2025

Uma onda de violência e ameaças atribuídas a facções criminosas paralisou bairros da Grande São Luís, resultando no fechamento de escolas criando um clima de medo entre a população. Durante entrevista a um programa de tevê, o secretário de Segurança Pública do Maranhão, Maurício Martins, adotou o discurso recorrente em gestões de segurança pelo país, ao isentar o governo Brandão de culpa e transferir a responsabilidade da crise para o Sistema de Justiça.

Ao ser questionado sobre a sensação de abandono nos bairros e a demora no enfrentamento ao poder paralelo, Martins afirmou que as polícias estão atuando e que já prenderam 30 pessoas nos últimos dias e atribui tudo isso a disseminação de notícias falsas. No entanto, a linha central de sua argumentação foi a crítica à legislação penal. O secretário classificou as leis como “frágeis” e citou mecanismos como a audiência de custódia e as prisões domiciliares como fatores que, na avaliação dele, beneficiam criminosos e prejudicam o cidadão.

“O sistema de justiça está preso a leis que são frágeis, que protegem muito mais as ações de criminosos do que a do próprio cidadão”, afirmou. Ele defendeu o “endurecimento” das leis como única solução para o problema das facções, sem detalhar ações de inteligência ou políticas sociais de prevenção.

Por trás dos números, no entanto, o efetivo insuficiente da Polícia Militar. Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostram que o Maranhão tem uma média de 141 policiais por 100 mil habitantes (abaixo da média nacional de 178). O cenário de subdimensionamento explica, em parte, a dificuldade de manter policiamento ostensivo permanente em bairros dominados por facções. Durante a entrevista, o secretário admitiu que o reforço nas ruas é recente, “há mais de dois meses”, segundo ele, mas evitou detalhar planos de longo prazo para ocupar territórios onde os criminosos mais atuam.

A suspensão das aulas, que deu origem às perguntas, foi uma decisão da rede estadual de ensino, contradizendo a tentativa do secretário de atribuir o fechamento das escolas exclusivamente a uma onda de “fake news”. Por exemplo, a Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) suspendeu nesta quinta-feira (23) as aulas noturnas e as atividades acadêmicas da instituição na sexta-feira (24), no Campus Paulo VI, no bairro Cidade Operária, em São Luís.

Martins manteve a posição de que não houve ocorrências dentro ou no entorno das escolas, mas não conseguiu explicar de forma convincente como a sensação de insegurança generalizada nas ruas (que levou pais a não mandarem seus filhos para a escola) será superada apenas com a prisão de mais indivíduos, sem mudanças na estrutura policial de ocupação territorial.

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