Integrantes do governo do Maranhão teriam encaminhado supostas gravações ilegais de autoridades para a revista Veja, de acordo com denúncia da oposição. A informação foi incluída em representação enviada à Câmara dos Deputados pelos parlamentares Márcio Jerry (PCdoB-MA) e Rubens Júnior (PT-MA), que pedem ao presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-AL), que solicite à Polícia Federal a abertura de investigação.
O requerimento, divulgado pelo deputado Márcio Jerry em suas redes sociais, alega que as gravações teriam sido realizadas por integrantes do governo do Maranhão e circularam entre aliados do governador Carlos Brandão. Os parlamentares pedem “rigorosa apuração e total esclarecimento do caso”.
A iniciativa complementa uma representação mais ampla protocolada no Ministério Público do Maranhão por oito deputados estaduais e federais da oposição, que denuncia suposta utilização da Polícia Civil estadual para perseguição política. O documento detalha uma série de procedimentos investigativos que, segundo os parlamentares, apresentam direcionamento atípico, exposição midiática indevida e falhas procedimentais graves.
A representação cita como exemplo emblemático o inquérito instaurado contra o vice-governador Felipe Camarão, arquivado pelo Tribunal de Justiça do Maranhão por falta de autorização judicial para investigação. Os parlamentares alegam que o caso foi marcado por quebra da cadeia de custódia de provas e escolha incomum da unidade policial responsável.
Outro ponto destacado refere-se ao inquérito do homicídio ocorrido no Edifício Tech Office, onde testemunhas apontaram a presença de Daniel Itapary Brandão, sobrinho do governador e atual presidente do Tribunal de Contas do Estado, na cena do crime. Segundo a denúncia, pedidos para sua oitiva foram obstados e gravações completas das câmeras de segurança não foram juntadas aos autos, apesar de determinação judicial.
O documento também menciona vazamentos seletivos de informações sigilosas para um blog específico que teria publicado detalhes de investigações sob segredo de justiça envolvendo o vice-governador e deputados de oposição. Os parlamentares sustentam que a recorrência desses episódios configura um padrão de instrumentalização da polícia para fins políticos.
Entre as providências solicitadas ao Ministério Público estão a instauração de procedimento de controle externo da atividade policial, requisição de documentos e informações, realização de inspeções extraordinárias nas unidades envolvidas e apuração criminal dos vazamentos de informações sigilosas.
Polícia Civil em crise
A denúncia ocorre em meio a uma crise estrutural na Polícia Civil do Maranhão. Recentemente, a Justiça condenou o Estado à reestruturação completa da força, determinando concurso público em até oito meses para preencher 716 vagas ociosas. Vistorias em delegacias da capital constataram condições insalubres de trabalho, falta de viaturas e equipamentos obsoletos.
Em sua decisão, o juiz Douglas de Melo Martins condenou o Estado ao pagamento de indenização por danos morais coletivos e estabeleceu multa diária por descumprimento. O caso ilustra o cenário de precariedade em que as investigações denunciadas pela oposição estariam sendo realizadas.
