turvo turvo
                                       a turva
                                       mão do sopro
                                       contra o muro
                                       escuro
                                       menos menos
                                       menos que escuro
menos que mole e duro menos que fosso e muro: menos que furo
                                       escuro
                                       mais que escuro:
                                       claro
como água? como pluma? claro mais que claro claro: coisa alguma
                                       e tudo
                                       (ou quase)
um bicho que o universo fabrica e vem sonhando desde as entranhas
                                       azul
                                       era o gato
                                       azul
                                       era o galo
                                       azul
                                       o cavalo
                                       azul
                                       teu cu

                                                                         (Poema Sujo – Ferreira Gullar)

 

O Maranhão é esta terra onde o poeta Gonçalves Dias morre na costa, no litoral; morre na praia, já quase chegando. O Maranhão é este eterno quase “quase”. É esta terra que expulsa Aluízio, Ferreira, Mendonça… O Maranhão é a Terra do Nunca: onde “azul era o gato, azul era o galo, azul o cavalo, azul…”, o local de tirar políticos.

Lembram-se do filme o Exterminador do Futuro (aquele que o exterminador do mal era líquido)? Pois assim é o Maranhão. Ele se transforma nas formas que precisa, que quer… “Um tipo de amor que é pobre, e às vezes nem é honesto”. “Ave, palavra!” Como diria Guima.

Assim são os políticos do Maranhão: se transformam em religiosos (como fez Mussolini), em comunistas, em liberais, em poetas, ou simplesmente demostram o pior do que são quando já não tem motivos pra se esconder ou oposição.

O Maranhão é poético por essência, disso não duvidem. É uma eterna metáfora! (Aff, Gerald, as metáforas!…); o tijolo do fazer poético. “Tijolo por tijolo, num desenho ilógico…”. Mas sempre morre estatelado no asfalto (ou na ausência de asfalto), como um pardal de William Carlos Williams. Mas é uma Fênix!

Quando Flávio Dino foi governador (o segundo balaio. Balaio?) desmontou-se a oligarquia. “Que oligarquia?” – Diria Dino no dia seguinte. E o povo estupefato (e pobre, pobre de marré, marré, marré…) com suas bandeiras brochadas, e os leões, igualmente, rugindo, irascíveis, como rugia um pistoleiro autêntico dos anos 1950.

Minha terra nem palmeiras tem mais. Os sabiás, então! Cortaram quase todas pra plantar soja e eucalipto, ou pra fazer prédios ilegais. As aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam e se calam sob as letras que Vieira atribui ao Maranhão: TCE, TJ, MP, OAB, ALEMA, CVSL, FAMEM… Ah, não eram essas; desculpa Vieira, era M, de Mentir, de Motejar…

Havia palmeiras no sítio Rangedor onde construíram a Assembleia legislativa do Maranhão do M? Quantas foram arrancadas? Depois fizeram uma pistazinha pro povo sorridente fazer umas caminhadas.

Sobrou palmeira? Se sim, já era, pois já, já, serão arrancadas pra fazer a nova sede da Federação dos Municípios. A área de proteção ambiental foi doada pelo governador Brandão para que se arranque aquele mato e se construa alguma coisa, afinal, “é bom para o Maranhão não ter oposição”: “azul teu…”.

O Maranhão é turvo como o “Poema Sujo”. Mas é claro “como água? Como pluma, claro mais que claro claro: coisa alguma”. O Maranhão das cores e das letras, as letras que já foram e as cores que são as cores dos States, da Bolívia, da Jamaica… Ah, meu tesouro, meu torrão!…

Mas a cor do Maranhão é a cor do seu povo. “Escuro. Mais que escuro”… e ainda escravizado, sob o relho dos senhores e dos coronéis. Por que Gullar cantou assim o seu estado? Estado que foi seu e que deixou de ser. A não ser pelos seus poetas reminiscentes, seus eternos poetas… Que não fazem oposição.