Categoria: Coluna do Geraldo Iensen Page 1 of 2

A cidade amanhece sem água, sem ônibus, sem governo e nunca terá

A cidade amanhece sem água, sem ônibus, sem governo e nunca terá

Parece problema de meados do século XX, de uma república de bananas qualquer encravada na imensidão selvagem da América do Sul… Roteiro de filme irresponsável, como um sem percentagem das produções roliudianas. Ou a São Luís do século 19 quando Ana Jansen manipulava a distribuição de água na capital Timbira, feita sob carroças puxadas por cavalos ou bois…

“Mudaram as estações, nada mudou”… outro roteiro de música ingênua de Renato Russo cabendo na nossa capital de mais de um milhão de habitantes, onde os princípios ainda se firmam em costumes (?) monárquicos de séculos passados.

A única coisa que parece transcorrer na hipermodernidade, ou modernidade líquida é que as notícias pipocam nas redes sociais: grupos de porteiros, supervisores ou de síndicos, que anunciam mais um desespero na chegada ao trabalho, uma vez que não tem transporte coletivo das “cidades dormitórios” que fornecem profissionais para a “corte”, mas também não chegou a água do “dia de sim” e as cisternas estão vazias…

“E ainda assim, ela gira”… mesmo que nos grupos de jornalismo, de blogueiros nada, ou quase nada se fale, porque a greve é de responsabilidade do governo do estado.  Transporte semiurbano da famigerada MOB, a água da famigerada CAEMA e tantos famigerados…

Resta vir um magistrado com sua “varinha mágica” e decretar a greve: ilegal (mas é de responsabilidade do governo!!!! – mas vai sobrar para o sindicato! rsrsrsrs), e, pronto! “missão cumprida!”.

Enquanto isso na “fundição do jeitinho”, se forja um, quer dizer, constrói-se uma legislação para nomear parentes, homenagear cretinos ou impedir piercing e tatuagem em cachorros (que cagam e mijam a cidade inteira), ou pra dar passagem de graça para “cegos em quartos escuros, procurando gatos pretos que não estão lá”, embora o transporte esteja paralisado porque “nãoseiquem disse que pagou, mas nãoseiquem disse não recebeu e nãoseiquem resolveu parar da noite para o dia e a generalidade de trabalhadores, empresários e todo mundo que se foda.

Mas a construção da justiça e da dignidade humana, não. Definitivamente, não! Isso é com a torcida. Água, transporte coletivo, limpeza urbana, sustentabilidade, cidadania: só arrumando um “bando de macho, com testosterona” para resolver isso na bala, no chute e no grito. Né, Coronel?!

P.S: A última frase contem ironia.

A greve no transporte é um tijolo com o qual podemos construir uma solução ou jogar pela janela

“As forças repressivas não impedem as pessoas de se expressarem, mas as forçam a se expressar. Que alívio não ter nada a dizer, o direito de não dizer nada, porque só assim há chance de enquadrar o raro, ou cada vez mais raro, o que vale a pena dizer”. (Deleuze)

 

O filósofo Gilles Deleuze escreveu que a “Filosofia, lança-nos todos em negociações constantes com, e uma campanha guerrilheira contra, nós mesmos”. Uma dessa campanhas é eleger os nossos verdugos. Hoje mesmo li um tecido de elogios a um já falecido que a história mostra tão cínico quanto os encarnados.

E, apesar do recurso filosófico, nada mais falo do que dos políticos, poderiam ser todos, mas hoje vai em especial para os executivos, mais precisamente para o prefeito. Isso mesmo por causa da tortura imposta aos trabalhadores, estudantes, doentes, desempregados, e até aos empresários que arcam com uma boa parcela do custo de uma greve de transporte coletivo.

Deleuze continua que “Por baixo de toda a razão está o delírio e a deriva”. Uma eleição começa com dois delírios: as promessas infames dos candidatos e a crença nelas pelo eleitor. A deriva é uma só: a que lança todos ao esquecimento, ao desprezo, à infâmia, em suma, ao terror do abandono; a exemplo desta, em menos de 4 anos, quinta greve do transporte coletivo, que é usado por mais de 70% da população.

Os insulares prosperam na miséria. Sendo vítimas de todos os açoites. Tudo de ruim sobra para a população, embora esta carregue como única culpa a escolha de suas quimeras, resultado da crença em profetas, salvadores, demiurgos, uma fé cega contra uma espada afiada.

Para finalizar ainda com Deleuze, “Um conceito é um tijolo. Pode ser usado para construir um tribunal da razão. Ou pode ser jogado pela janela”. Mas o eleitor não escolhe a construção da razão nem jogar o tijolo-conceito pela janela, antes disso, prefere repetir os seus erros constantes, ou, escolher coisa pior, ou, ainda: comer o tijolo.

O Telejornal Jornal da Guará encerra uma jornada de 12 anos

Ontem, dia 9 de janeiro, a cena do “último Jornal da Guará”, protagonizados pelos jornalistas Hugo Reis e Marcus Saldanha formou um suspiro para além do bem e do mal (aquele paciente terminal que agoniza e causa sentimentos contrastantes, mas plenos de puro amor…). Assim foi a despedida dos jornalistas responsáveis pelo telejornal e suas nuances políticas, muitas consagradas na respectiva seara, do nosso idiossincrático estado.

 

No fim, tudo acaba; poético e tautológico, como a vida e o ser (aquilo que ” é e não pode não ser”). Nos descaminhos de nomear o mundo, os processos de ruína são tão líquidos como a sociedade baumaniana.

A Emissora nasceu como um sonho de Wonka de Roberto Albuquerque, empresário curtido no ambiente escaldante e apaixonado pela interação social tradicional maranhense. Ali, um embrião apareceu e foi crescendo até se tornar um ser inquieto e impertinente.

Foi ousada nas eleições de 2014 fugindo do padrão local de ser terremoto de um lado, calmaria de outro, embora tivesse uma linha editorial clara e equilibrada.

Às vezes os conservadores são mais seguros que os revolucionários. E revolucionários tem uma balança muito delicada, quase quântica, e, certamente, assentada na relatividade, onde um mero “bóson” descoberto, muda de lugar como mágica. As novas reações, incertas e cobertas de temperatura, pressão, catalisadores e etc e tal, levam a um composto dinâmico, onde o ser, deixa de ser. Viu, Seu Parmênides?!

E assim, a TV Guará resistiu depois de 2014, de 2016, de 2018, foi guerreira depois de 2020 e , com seu pequeno porte, sua humildade, sua alteridade, deixou uma marca única na Televisão maranhense: foi criativa, inclusiva e sobretudo INDEPENDENTE & LIVRE, o que causa pavor nos arrogantes e nos mal intencionados.

A TV Guará foi uma emissora guerreira enquanto foi independente. Seus estertores não representam sua trajetória.

Mais de 30 anos de greve no transporte coletivo de São Luís: quem são os culpados?

A vida humana tá sempre em busca de “quem é o culpado” por toda e qualquer desgraça do mundo. Não é diferente com a greve do transporte coletivo. “Rodoviários não cumprem determinação da Justiça e greve…” é apenas um dos títulos que li na manhã desta quarta-feira (26). Só no período que cubro e uso o sistema de transporte coletivo, são 35 anos de recorrência do mesmo problema.

Cumprindo suas características escravagistas, coronelistas e oligárquicas o Maranhão segue com sua chibata no lombo do povo trabalhador. Ocasionalmente, nos inúmeros ao vivo que acompanhei, onde vários usuários desesperados opinaram, nenhum culpou os motoristas e demais servidores do sistema de transporte. Ao contrário, as críticas foram todas direcionadas aos gestores políticos.

No governo do prefeito Edivaldo Jr. acompanhamos aquele engodo de licitação do transporte coletivo. Onde botaram uma roupa nova num defunto, para que parecesse um jovem saudável. Tudo mentira! As mesmas empresas, a mesma qualidade, a mesma precariedade, tudo igual; nada mudou. Até os poucos ônibus com ar condicionado que apareceram, acharam uma desculpa para não usar (a pandemia).

Mas para a justiça e alguns outros, quem tem que ser penalizado é o trabalhador. A greve é “considerada ilegal”. Enfim, só falta a chibata para obrigar os trabalhadores a trabalhar sem condição e sem reposição salarial, para fornecer um transporte coletivo sem nenhuma dignidade e com os mesmos preços praticados em todas as grandes cidades do país, inclusive as que oferecem um transporte decente.

Acabou o direito de greve? A solução correta é a solução banal (na canetada)? Os poderes públicos estaduais e municipais ficarão sentados observando o sofrimento da população e absolutamente todos os serviços da cidade sendo amargamente penalizados pela incapacidade de os trabalhadores se deslocarem para seus postos?

Mas os culpados são os trabalhadores do sistema de transporte que não querem trabalhar sob condições amargas e com salários, tickets alimentação e planos de saúde atrasados e/ou defasados…

Entre os empresários do transporte coletivo, os poderes estadual e municipal e os trabalhadores do sistema, os dois primeiros não cumprem suas obrigações e os últimos exercem o seu direito constitucional.

Sobra o usuário, o único penalizado com tudo isso.

E por trás dessa situação há uma grande teia política que encobre como névoa ácida todo o sofrimento do povo. Uma teia que mira o desgaste de alguns agentes políticos e promoção de outros. Mais uma vez o povo é tratado como gado, massa de manobra, boi de piranha, que não merece nenhum respeito, desde que siga indignado com o que os sistemas de comunicação mais forte for capaz de propor.

A foto que ilustra esta matéria foi feita por mim entre 1988/1989, num breve período em que passei pelo Jornal O Imparcial e cobri, então, uma greve de ônibus, ou seja um sistema que vem gerando os mesmo problemas há mais de 30 anos.

O resto é poeira para, depois de conseguidos os resultados, ser varrida para baixo do tapete, como, por exemplo, a licitação do transporte coletivo feita pelo prefeito Edivaldo Jr e que não mudou nada. Quem são os culpados?

Todos em busca de um “Negócio da China!”

O presidente Lula foi pra China. Levou o governador Brandão, uma parelha de deputados, senadores, lideranças, empresários… A trupe brasileira. Não me admira se aparecer um pandeiro, um tamborim e um cavaquinho pra articular um samba nesse avião, pra chegar todo mundo animado pra fazer “Negócios da China”.

No mais é procurar alguém pra botar a culpa dos problemas urgentes; a velha estratégia que, no mínimo, dá um tempo a mais para que uma contenda seja resolvida. Ou esquecida, isso com a ajuda de alguns agentes que podem ir desviando do problema real, ou criar ramificações que causem confusão nas análises. Isto posto vamos aos “Negócios da China”.

Quem pauta? A imprensa ou os poderes constituídos? Ou é como garimpo, apareceu ouro num barranco começam a cavoucar nas laterais, ninguém vai procurar no lugar oposto onde o colega bamburrou. Bamburrar é um “Negócio da China”.

Então vamos discutir os juros no Brasil? É a “batata quente”: vamos jogar no colo de quem? Ah, mas o banco Central é “autônomo”! Ah, mas eu não nomeei o presidente do BC; Ah, mas pra controlar a inflação tem que ter juros de 26% (e não 13,75%); Ah, mas os empresários que querem investir no Brasil vão desistir com um juro desses… Bom, esses juros cósmicos brasileiros devem ser o oposto de um “Negócio da China”, então estes ficam cozinhando por aqui.

Já tivemos alguns “Negócios da China” no Maranhão. Por exemplo, a compra de respiradores durante o início da pandemia de Covid-19, que foi um negócio tão incrível, que virou até livro. Outro foi aquele porto que seria construído na comunidade Cajueiro, que foi devastada, teve sítios espirituais arrancados, o meio ambiente ameaçado e o tal porto ficou no esquecimento. E os moradores da Vila Cajueiro sem as suas casas.

A expressão “Negócio da China” remonta ao século XV, para uma China que virava as costas para o ocidente, que estava louco para por as mãos nas sedas, temperos, ervas, óleos e perfumes orientais, o grande “negócio da China” de então. Agora as coisas mudaram, A Guerra do Ópio ficou lá no século XIX, os chineses se livraram da Inglaterra e meteram a Revolução Maoísta no meio. A China é hoje reconhecida potência mundial e é “onde está o dinheiro”. Então todos querem correr pra lá.

Mas a China só tem feito “Negócios da China” para ela mesma, para as “potências” Estados Unidos e União Europeia o presidente Xi Jinping não oferece, sequer, um sorriso. E no Maranhão, por enquanto, de realidade mesmo em termos de “Negócio da China”, o que temos de concreto palpável e visível é, unicamente, o comércio de bugigangas da Rua de Santana.

CEO e Siô… Mas eles são homens honrados!

Vim enterrar César, não louvá-lo. O mal que os homens fazem sobrevive a eles. O bem quase sempre com seus ossos se enterra. Pois seja assim com César. O nobre Brutus já lhes disse que César era ambicioso. Se assim era, foi uma falta gravíssima, e gravemente César respondeu por ela. Com licença de Brutus e de todos os demais, pois Brutus é um homem honrado; assim são todos os outros, homens honrados, venho eu aqui no funeral de César. Ele era meu amigo, fiel e justo comigo. Mas Brutus disse que ele era ambicioso. E Brutus é um homem honrado.

Discurso de Marco Antônio em  Julio César – Shakespeare

 

O cara se matando pra compreender esse mundo, suando sobre as obras de Nietzsche, Derrida, Bauman e Cioran; buscando um sentido para tanto absurdo, tanto equívoco. Tentando encaixar o viés desumano para onde a humanidade se conduz. E descortina-se uma vida guiada por DI’s, ex BBB’s, gerida por CEO’s… Haja IA’s!

Mas não são os filósofos (nem os artistas, viu!?) que conduzem a tirania da realidade nos tempos atuais (nem nunca foi, eu sei…); são os mercadores; todos os tipos deles. Só que hoje têm “especialistas” (esse raio infame da hipermodernidade!).

Algumas discussões, que a priori, podem parecer de cunho econômico, são na verdade de cunho acadêmico, mas não da economia, mas da filosofia (moral), da sociologia (cultura) e da comunicação (marketing – o marketing é da comunicação ou da economia?). A Comunicação é a nevralgia disso tudo – e não é só o marketing.

Os CEO’s (Chief Executive Officer ou Diretor Executivo)

As algumas discussões, por exemplo, são: Boca Rosa (digital influencer e ex BBB) no SXSW, evento internacional de Inovação que ocorre nos EUA e foi patrocinado pelo banco brasileiro Itaú; a falência das Lojas Americanas e a contratação de Gisele Bündchen pela Brahma para participar do carnaval na Sapucaí; a quebra de dois bancos americanos e o bamboleio (bamboleiôõõõo, bambileiáááá…) do segundo maior banco suíço (solução fácil essa; já foi comprado pelo maior banco suíço).

Os siôs (regionalismo do Maranhão – redução de “senhor”) :

Novamente pistoleiros encapuzados, numa versão, hipermoderna da Ku Klux Klan, invadem comunidades tradicionais no interior do Maranhão e a polícia pede “calma” aos moradores apavorados, ao invés de prender essa penca de bandidos contratados, pelo que parece, pelas velhas práticas do terrorismo no estado. E quem tem que ter calma são aqueles que tem suas casas queimadas e suas terras tomadas.

Para a estética, para a poesia, a contradição é um tipo de elemento que compõe as obras. “Eu me contradigo? Pois muito bem, eu me contradigo. Sou amplo, contenho multidões”, escreveu Walt Whitman; “Eu sou um outro” escreveu Rimbaud, esses dois ali pelos fins do século XIX. “Contradigo-me a mim mesmo? Muito bem, então, contradigo a mim mesmo”, repetiu James Joyce; “Eu sou trezentos, sou trezentos e cinquenta”, refez Mário de Andrade, estes, no começo do século XX.

Desde então a modernidade foi a voragem do homem moderno. O superhomem de Nietzsche, as desconstruções de Derrida, a insônia de Cioran, e a sociedade líquida de Bauman versões de um empoderamento misturado com aniquilação. “As minorias são todos, a maioria não é ninguém”, diria Deleuze.

Agora os CEO’s, poderosos inconstantes do século XXI, fecham os olhos para todas as contradições e massacres do século. São parceiros dos “homens da política pública”, esta, tão privada, quanto a privada. Aqueles por detrás dos CEO’s, ninguém sabe quem é, embora haja alguns testas de ferro para serem crucificados, quando extremamente necessário, de vez em quando,

Presente na SXSW, Olga Martinez, sócia e fundadora da consultoria Amélie veio com uma tirada e tanto, reproduzida num artigo muito legal do Guilherme Ravache para o UOL: “Big tech, big corp, big bank? big is bad (grande é ruim)”. Isso nos lembra do mantra “global” de que “agro é pop, agro é”… bost… Esse mesmo que expulsa pobres comunidades tradicionais de suas casas, queimando seus “quase nada”. Siô!…

Maranhão: “um bicho que o universo fabrica e vem sonhando desde as entranhas”

turvo turvo
                                       a turva
                                       mão do sopro
                                       contra o muro
                                       escuro
                                       menos menos
                                       menos que escuro
menos que mole e duro menos que fosso e muro: menos que furo
                                       escuro
                                       mais que escuro:
                                       claro
como água? como pluma? claro mais que claro claro: coisa alguma
                                       e tudo
                                       (ou quase)
um bicho que o universo fabrica e vem sonhando desde as entranhas
                                       azul
                                       era o gato
                                       azul
                                       era o galo
                                       azul
                                       o cavalo
                                       azul
                                       teu cu

                                                                         (Poema Sujo – Ferreira Gullar)

 

O Maranhão é esta terra onde o poeta Gonçalves Dias morre na costa, no litoral; morre na praia, já quase chegando. O Maranhão é este eterno quase “quase”. É esta terra que expulsa Aluízio, Ferreira, Mendonça… O Maranhão é a Terra do Nunca: onde “azul era o gato, azul era o galo, azul o cavalo, azul…”, o local de tirar políticos.

Lembram-se do filme o Exterminador do Futuro (aquele que o exterminador do mal era líquido)? Pois assim é o Maranhão. Ele se transforma nas formas que precisa, que quer… “Um tipo de amor que é pobre, e às vezes nem é honesto”. “Ave, palavra!” Como diria Guima.

Assim são os políticos do Maranhão: se transformam em religiosos (como fez Mussolini), em comunistas, em liberais, em poetas, ou simplesmente demostram o pior do que são quando já não tem motivos pra se esconder ou oposição.

O Maranhão é poético por essência, disso não duvidem. É uma eterna metáfora! (Aff, Gerald, as metáforas!…); o tijolo do fazer poético. “Tijolo por tijolo, num desenho ilógico…”. Mas sempre morre estatelado no asfalto (ou na ausência de asfalto), como um pardal de William Carlos Williams. Mas é uma Fênix!

Quando Flávio Dino foi governador (o segundo balaio. Balaio?) desmontou-se a oligarquia. “Que oligarquia?” – Diria Dino no dia seguinte. E o povo estupefato (e pobre, pobre de marré, marré, marré…) com suas bandeiras brochadas, e os leões, igualmente, rugindo, irascíveis, como rugia um pistoleiro autêntico dos anos 1950.

Minha terra nem palmeiras tem mais. Os sabiás, então! Cortaram quase todas pra plantar soja e eucalipto, ou pra fazer prédios ilegais. As aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam e se calam sob as letras que Vieira atribui ao Maranhão: TCE, TJ, MP, OAB, ALEMA, CVSL, FAMEM… Ah, não eram essas; desculpa Vieira, era M, de Mentir, de Motejar…

Havia palmeiras no sítio Rangedor onde construíram a Assembleia legislativa do Maranhão do M? Quantas foram arrancadas? Depois fizeram uma pistazinha pro povo sorridente fazer umas caminhadas.

Sobrou palmeira? Se sim, já era, pois já, já, serão arrancadas pra fazer a nova sede da Federação dos Municípios. A área de proteção ambiental foi doada pelo governador Brandão para que se arranque aquele mato e se construa alguma coisa, afinal, “é bom para o Maranhão não ter oposição”: “azul teu…”.

O Maranhão é turvo como o “Poema Sujo”. Mas é claro “como água? Como pluma, claro mais que claro claro: coisa alguma”. O Maranhão das cores e das letras, as letras que já foram e as cores que são as cores dos States, da Bolívia, da Jamaica… Ah, meu tesouro, meu torrão!…

Mas a cor do Maranhão é a cor do seu povo. “Escuro. Mais que escuro”… e ainda escravizado, sob o relho dos senhores e dos coronéis. Por que Gullar cantou assim o seu estado? Estado que foi seu e que deixou de ser. A não ser pelos seus poetas reminiscentes, seus eternos poetas… Que não fazem oposição.

Crônica: Brandão, esse pedreiro tá enrolando!

Fazendo caminhada na Litorânea encontrei seu Baldo, ali um pouco antes da “Praça de Alimentação”. Com seus 78 anos, também fazendo sua caminhada “a favor do vento”, o velho me reconheceu e seguimos juntos.

Passando pela “obra” da Litorânea (uma que está remendando o calçadão), seu Baldo me disse: “Siô, é bom o prefeito ficar esperto que esse pedreiro tá enrolando”. E apontou pra “obra”.

– Como Assim, Seu baldo?, pergunto. “Siô, eu ando aqui duas vezes por semana e desde dezembro que vi que começaram a fazer essa calçada. E não sai do lugar. E ainda tão colocando esses bloquetes vagabundos. Se fosse o Chico do Boi, já tava tudo pronto há muito tempo”.

E seguimos no passinho dele. Conheci seu Baldo, amigo de meu pai, em Maraçumé, ainda nos anos 1980. Imagina a sinceridade desse senhor, olhando praquela indecência que são aqueles remendos de terceira categoria que vem sendo executados a passos de cágado na avenida. Mal sabia que o prefeito não tem culpa.

Como se bastassem as placas da prefeitura e do governo do estado que disputam a atenção em vários locais da via. Uma diz que é obra da prefeitura, outra que tem a presença do governo estadual. E o que nos sobra é a vergonha que está estampada ali. O asfalto do prefeito foi rápido e ficou bom.

– Mas seu Baldo, como o senhor faria essa obra?

“Siô, depois que o boi morreu, o Chico do Boi voltou a trabalhar direito. Lembra do Chico do Boi? Pois é… Eu chamava o Chico, ele trazia o Cacimba e o Cazé de ajudantes e o Benedito pra fazer a  parte elétrica. Vou apostado se em uma semana, 10 dias, eles não faziam tudinho. Seis mil pro Chico, 1200 pro Cacimba e pro Cazé e 4 mil pro Benedito”.

– Mas, seu Baldo, isso é obra do governo e é licitada, vencida por uma empresa de engenharia.

“É o quê, siô?  Brincadeira… Ali na nossa região, todo mundo sabe qual pedreiro é bom e qual é o enrrolão. O Chico sempre foi bom; faz pilastra reta e até assenta lajota. Olha isso!” – O velho falou apontando pra uns bloquetes sendo enterrados na areia mole… “– Hum… “Brandão que fique de olho nesse pedreiro”.

Na guerra entre ingenuidade e sabedoria, ignorância e saber ali estampados vi que seu Baldo tinha toda razão, no interior de sua racionalidade. Uma ação irracional e tola estampada aos olhos de todos, todos os dias, a céu aberto e em belas tardes de pôr-do-sol. Alguns passos lentos e em silêncio, entre um muxoxo e um suspiro, seu Baldo continuou:

“Lembra do Ribinha? Isso, esse mesmo… Era um bom pedreiro. Mas aí foi fazer aquele serviço na beira-rio pra prefeitura, que nunca ninguém viu. Dois meis depois apareceu de railux, aquela que era do prefeito; isso, a cinza. Pois é… Disse que ficou com ela como pagamento. O prefeito tá com uma nova, daquela daimon. Depois disso Ribinha diz que não pega mais serviço pequeno; senão até ele matava essa da Litorânea e mais rápido”.

A gente ia passando por um dos restaurantes, já chegando aonde a neta de seu Baldo ia busca-lo. Dois rapazes de mãos dadas conversavam bem próximos, dentro do restaurante, divididos do calçadão apenas por uma mureta .

“Você, viu?”, pergunta seu Baldo.

– Vi. O senhor tem bronca com isso?

“Ah, sim, acho um desrespeito com as pessoas que estão comendo. Eu, mesmo quando fumava, nunca fiz isso”.

Uma segunda olhada me fez ver que os dois rapazes seguravam cigarros com o braço pendurado pelo lado de fora da mureta.

“Licitação, é? Empresa de engenharia?”. Só rindo mesmo. Devem estar esperando o aditivo…”

Esse seu Baldo….

Capitão manda mais que general e coronel mais do que ministro: O poder no “Pálido Ponto Azul”

A Terra é um cenário muito pequeno em uma vasta arena cósmica. Pense nos rios de sangue derramados por todos aqueles generais e imperadores para que, em glória e triunfo, eles pudessem se tornar os donos momentâneos de uma fração de um ponto. Pense nas infindáveis ​​crueldades cometidas pelos habitantes de um canto deste pixel sobre os habitantes praticamente indistinguíveis de algum outro canto, quão frequentes seus desentendimentos, quão ansiosos eles estão para matar uns aos outros, quão fervorosos seus ódios

Carl Sagan*

 

Pra deixar de entretanto e partir pros finalmente, não vamos começar o discurso dizendo: “Povo de Sucupira”… Embora ultimamente não sejam raros casos em que capitão manda mais que general e coronel manda mais do que ministro e mais do que (na falta de balaiada) uma jacalhada de coisas.

Com mais de dois meses de governo e um suspense infundado, para uma divulgação infantilizada de nomes, praticamente, de conhecimento público, o governo, enfim, começa a “definir” sua equipe. Uma releitura do coronelato de tresontontes…

Uma parentalha em postos mais que estratégicos, escudeiros em outras os pinga-pus da currutela se matando pra roer os ossos que sobram. Entre tudo isso uma guerra fria pra tentar segurar postos “negociados” no passado recente.

O PT, por exemplo, vem numa “briga” para conquistar espaços no governo. Mas o que se viu essa semana foi uma noticia de Lula (PT) ligou pro governador Brandão (PSB) pra pedir espaço no governo para Adriano Sarney (PV). E pro PT, não pede nada? Isso lembra uma vezes que Lula passou por cima do PT maranhense, dizendo que as lutas internas eram problemas do PT local…

Segundo o presidente Francimar Melo, o PT pleiteava três secretárias (Agricultura, Direitos Humanos e Trabalho) e, mais, Educação, que seria um espaço já conquistado pelo senador Flávio Dino (PSB).

Mas essa conversa com Melo foi na manhã da sexta (24). Na tarde do mesmo dia saiu o resultado das discussões e o PT ficou com Educação, Direitos Humanos, Trabalho e IEMA.

Perguntei para o presidente do PT: Perderam agricultura? “A SEDUC + IEMA é  grande. Então não perdemos”, considera Melo. Nem lembrei a ele, que segundo avaliação do partido, confirmada por ela, a SEDUC (Educação) não estava na cota do partido…

Mais espaço para o PT

Um nome de peso, que vem ganhando leveza (desculpa Kundera) é o deputado Othelino Neto (PC do B). O ex-todo-poderoso da Assembleia Legislativa vem traçando um caminho enviesado, desde que… Bom, essa é uma longa história para os Historiadores

Othelino Neto é o marido de Ana Paula Lobato, suplente de senadora, que assumiu o mandato no senado quando Flávio Dino se tornou Ministro da Justiça. Com a mulher e provavelmente a família tendo que ir para Brasília, o deputado comunista tem passado por um dilema, se fica no Maranhão como um dos 42 deputados ou vai para a Capital Federal. Já lhe foi oferecido o cargo de representação do estado junto aos poderes nacionais, mas ele vem negando interesse. Dizem que a oferta nem existe mais…

Fora isso, com a saída de Othelino, assumiria o mandato o primeiro suplente Zé Inácio (PT), que não se reelegeu na última eleição. Depois da conquista das secretarias e cargos no estado (que ainda não foram anunciados oficialmente), segundo Francimar Melo “Vamos construir a busca do mandato do Inácio; é importante”.

Francimar Melo diz que tem conversado com Othelino e que ele “pode fazer um gesto”. Aliás, Othelino anda bem quieto; nem tem aparecido na sessões presenciais da ALEMA. Mas sobre a saída dele para a entrada de Inácio, Francimar diz que “Tem sinais”.

 

* Trecho de texto do astrônomo norte-americano Carl Sagan, sobre uma das primeiras fotos do planeta Terra tomada a partir do Espaço Sideral (a sonda Voyager 1, que estava a 6 bilhões de km da Terra). A foto da legenda é da sonda Cassini, divulgada em 2017)

Precisamos ser indígenas¹ sem nos fantasiar

O antônimo de “indígena” é “alienígena”, ao passo que o antônimo de índio, no Brasil, é “branco”… Essas palavras indígenas têm vários significados descritivos, mas um dos mais comuns é “inimigo”, como no caso do yanomami ‘napë’, do kayapó ‘kuben’ ou do araweté ‘awin’. Ainda que os conceitos índios sobre a inimizade, ou condição de inimigo, sejam bastante diferentes dos nossos…

Eduardo Viveiros de Castro

 

O carnaval é como esses mostrossauros de trocentos metros de comprimentos e multitoneladas de peso, misturados com os mitos de Sísifo e da Fênix. Ou seja, é essa coisa formidável (nos dois sentidos), que nasce e morre o tempo todo, sem deixar de carregar sua pedra morro acima, a mesma pedra que rola novamente.

Sim, acabou o carnaval, morre Baco, vem a quarta-feira de cinzas e a quaresma (há os que fazem o sacrifício de não comer carne vermelha durante a quarentena – !!!!!). Como poetou Vinícius: “Acabou nosso carnaval, ninguém ouve cantar canções, ninguém passa mais cantando feliz…”. Mas a “sexta-feira gorda” é só o começo!

Quinta-feira que vem, teremos as estatísticas: mortes, feridos, acidentes, estupros, feminicídios, prisões, número de celulares roubados, documentos perdidos… tantas coisas perdidas no meio dessa catarse coletiva, que é o carnaval.

As escolas de samba (escolas?!) estão zangadas por que o prefeito deu só um dinheirinho (e em cima da hora) pra elas brincarem o carnaval. Mas não faltam trios elétricos, shows, atrações nacionais, tudo “de grátis” para aplacar a fúria (fúria?) do cidadão, quer dizer, brincante; quer dizer, cidadão; quer dizer…

Esta semana passou uma entrevista na TV Senado com Ailton Krenak, onde ele citou o Eduardo Viveiros de Castro. Vou deixa assim, soltos, estes dois nomes… Impossível não lembrar uma conversa de redação onde jornalista de quase 40 anos de idade não sabia quem era Marilena Chauí. Bom, melhor não deixar os nomes soltos. O escritor indígena (traduzido para dezenas de línguas) Ailton Krenak é um indígena brasileiro, escritor, filósofo, ambientalista. Krenak não acredita em “sustentabilidade”, essa palavra que não sai da boca da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.

Para entender melhor o Krenak é só recorrer ao antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, em minha opinião, uma das maiores e melhores manifestações do libertário que temos no agora (verdadeiros “Lances de Agora” pra citar outro Viveiros).

Com esses dois aprendemos o quanto é bom, e o quanto é necessário ser indígena, mesmo sem ser índio. Como, por exemplo, o agricultou Vicente de Paula, Morador do povoado Carrancas, em Buriti – MA, cuja terra vem sendo engolida pela soja. Ninguém faz o Vicente deixar de ser indígena, porque ninguém arranca seu devir, seu coração.

Mas o Vicente não é uma estatística do carnaval. Na verdade, não é uma estatística e se estende por todo o ano. A luta do Vicente e de milhares de pessoas iguais a ele, de comunidades tradicionais, ou seja, indígenas (no conceito de Viveiros de Castro), essa população invisibilizada pelos projetos capitas e de comunicação não vai entrar nas estatísticas de carnaval. É uma população está sendo lenta e progressivamente exterminada, e para o proveito de poucos, num projeto de poucos, para o mal de todos.

Como escreve Viveiros de Castro: “E nesse sentido, muitos povos e comunidades no Brasil, além dos índios, podem se dizer, porque se sentem, indígenas muito mais que cidadãos. Não se reconhecem no Estado, não se sentem representados por um Estado dominado por uma casta de poderosos e de seus mamulengos e jagunços aboletados no Congresso Nacional demais instâncias dos Três Poderes”.

O Brasil é uma barragem cheia de pequenos vazamentos que um belo dia apresenta uma grande rachadura. Então se começa a tapar os pequenos vazamentos…

 

Notas:

1 – “A palavra ‘indígena’ vem do «lat[im] indigĕna,ae “natural do lugar em que vive, gerado dentro da terra que lhe é própria”, derivação do latim indu arcaico (como endo) > latim] clássico in- “movimento para dentro, de dentro” + -gena derivação do rad[ical do verbo latino gigno, is, genŭi, genĭtum, gignĕre “gerar”; Significa “relativo a ou população autóctone de um país ou que neste se estabeleceu anteriormente a um processo colonizador” …; por extensão de sentido (uso informal), [significa] “que ou o que é originário do país, região ou localidade em que se encontra; nativo”. (Dicionário Eletrônico Houaiss).

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