terça-feira, 18 novembro, 2025

Domingo é dia de crônica, e repassando o olhar sobre a história recente (cerca de 12 – 15 anos) da política no Maranhão, lembrei-me  da primeira que li A divina comédia, de Dante, numa daquelas traduções toscas da editora abril, que é o que dispúnhamos nos anos 1980.

E o que tem a ver Dante e a política maranhense? Nessa primeira leitura da Divina, achei muito amedrontador aquela coleção de pecados e o risco da proximidade com o Demônio. Mas o que mais me chamou a atenção foi o que leva Dante a percorrer o caminho das opções que se prostravam frente a um homem medieval, ou seja, o caminho do bem, do mal e um pé aqui e outro acolá, que poderiam levar ao purgatório.

Dante nos fala daquele Nell mezzo del cammin, ou seja, no meio do caminho, que era a média de vida do homem medieval, 35 anos era a metade da vida. E esse no meio do caminho, nos retorna com uma insistência nietzschiana. Bilac nos trouxe o seu “Cheguei, chegaste” e a “extrema curva do caminho extremo” e depois o velho Drummond com a sua insistente pedra “no meio do caminho”.

Neste momento da política do Maranhão nós temos alguns Dantes, que estão nas cercanias do “meio do caminho”, uns um pouco mais pra frente, outros um pouco mais pra trás, mas com caminhos escancarados, ou pela vida, ou pelo fórceps da vida.

No livro do italiano, o jovem Dante tem a oportunidade de conhecer os possíveis resultados de suas escolhas, visitando, ainda em vida, as três possibilidades: Inferno, Purgatório e Paraíso. Mas aqui na vida real, as escolhas não tem essa sorte de medidas. É escolher e ir em frente, com coragem, solidão e vontade de vencer.

Participei, por tabela, de uma entrevista do Felipe Camarão, que eu conheço desde que ele era menino, aliás, conheço o pai dele, de muitos e muitos anos. Dessa conversa, quando ele mostrava para outro jornalista a sua jornada fotográfica, retirei essa fala do vice-governador, que ele sempre teve apenas “um lado, uma palavra, uma posição”.

E as fotos vinham da pré-campanha da prefeitura de São Luís, quando Camarão está no PC do B, apoiando a eleição do prefeito Edvaldo Holanda Jr, construída dentro do projeto “Governador Flávio Dino”.

E essa frase do vice-governador é indestrutível, sua história confirma. Não é de hoje a luta e a militância. Ele nunca saiu pulando entre partidos de ideologias extremas, de ideias extremas, chocantes, nunca traiu, e ao mesmo tempo já tem uma estrada, um caminho, uma escolha e é a mesma de sempre.

Felipe Camarão não é uma invenção ideológica ou midiática, ou financeira, ele representa um projeto de Estado, o mesmo criado pelo Flávio Dino, quando derrubou uma oligarquia instalada no estado há mais de 40 anos. Felipe estava lá.

Enquanto mostrava o álbum de fotografias Camarão com semblante saudoso, contemplativo ia anotando:

2016, São Luís;  2016, em Pindaré mirim; 2016, em Governador Newton Bello; 2016, em Coelho Neto, representando o governador Flávio Dino; 2020, com Flavio, desde sempre, e sempre com quem nosso time apoiou; Edvaldo em 2012; Edvaldo em 2016; Duarte em 2020; com todos os nossos candidatos do PCdoB em 16 e em 20; e, óbvio, na linha de frente da reeleição de 2018.

E assim fecha o álbum: “Só tenho um lado, uma palavra, uma posição”.

Passei muitos anos ressabiado, com aquela leitura, com aqueles castigos cada vez piores, mais próximos do Demônio. Até que, já bem passado do meio do caminho, conheci a “mulher do riso” (só pode ser a risa!) que quase se mijava de rir lendo a Divina Comédia. E ali eu aprendi a rir disso e de tudo. Pra mim não existe mais o Demônio, tudo é apenas capeta: SER-TÃO.

Os caminhos, não importa em que altura estejamos, são assim, cheio de pedras. Que bom! Então senhores, quando a vara do capeta lhes cutucar as ancas, façam como aquela moça: riam; aqueles que puderem, existirem e tiverem coragem.

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