Normalmente a gente usa a expressão “nessas alturas do campeonato”, para algo tardio, fora de tempo, que já passou. Claro, sempre é possível subverter a ordem das coisas. Sempre que vejo “pesquisas de intenção de votos”, faltando mais de um ano para eleições, agora, que nem há candidatos, que nada está definido, e, principalmente, nestes tempos tão aleatórios das ações, qualquer pesquisa de “vou votar em fulano” é como proposição de analista de política de boteco. E não importam os beneméritos e nem os beneplácitos.
Claro que podemos avaliar nuances e impressões sobre “personalidades” (ou falta de) e situações, mas, é tudo nas entrelinhas; e num metier onde mal se sabe ler a proposição denotativa, imagina, as lições ocultas. Portanto, quase tudo que vem, vem na forma de analfabetismo funcional, de soldadesca nefelibata, de propaganda subliminar… e tantos eteceteras…
Há alguns dias o juiz titular da vara de Interesses Difusos e Coletivos, Douglas de Melo Martins, concedeu Liminar que proibia a Secretaria de Comunicação (SECOM) de produzir peças publicitárias com imagens ou menções ao governador Carlos Brandão e do Secretário de Assuntos Municipalistas, sobrinho dele, Orleans Brandão, apontado pela família (ampla e irrestrita) como candidato à sucessão do tio.
A liminar da Vara de Interesses Difusos e Coletivos atendia a uma Ação Popular impetrada pelo deputado Rodrigo Lago (PC do B). Porém, sem mais delongas, o presidente do Tribunal de Justiça, Froes Sobrinho, cassou a liminar de Martins nesta sexta-feira (26).
Enquanto o juiz destacava que “a publicidade institucional deve ter caráter exclusivamente educativo, informativo ou de orientação social, e não pode ser utilizada para finalidades pessoais ou eleitorais”, o desembargador afirmou que “aparecer em uma propaganda institucional não gera de pronto a caracterização de sua promoção pessoal pois, conforme já salientado, é possível a identificação do gestor nas ações de governo, o que não pode ocorrer é a atribuição das obras ou serviços realizados à sua figura particular“.
Então, tá.
Algumas horas antes da determinação do desembargador, a imprensa afeita ao Palácio dos Leões e à ALEMA, disparava uma pesquisa eleitoral apontando o sobrinho do governador como “Líder Absoluto e Inquestionável” da sucessão estadual, ultrapassando o prefeito da capital, que vinha dezenas de pontos à frente de todos os nomes desde sempre.
Lembrando que, no meio político eleitoral, o sobrinho do governador não é ninguém, além do sobrinho do governador. Apenas vem tendo seu nome associado às ações do tio, desde que Brandão resolveu lançar o familiar como sucessor do Trono.
Nem importam os números lançado pelo Instituto Inop, ante qualquer outra pesquisa anterior. Os deputados de oposição (poucos) esturraram na tribuna, como têm feito (e causado ora medo, ora espanto nos governistas mais delicados) sempre que discordam das “pautas” e ações governamentais.
Hoje (26), um dia depois, a oposição mostrou a pesquisa “deles” (Datailha). Outros números, senão invertidos, porém coadunados com pesquisas anteriores dos diversos institutos. Mas o que chama a atenção, pra mim, não são as intenções de votos em Braide, Lahésio, ou ao clã Brandão, e nem o “não sabe, ou não respondeu” de 59%, mas sim duas pranchas que medem outra coisa.
A primeira prancha pergunta “Você conhece ou já ouviu falar sobre o candidato Orleans Brandão?” 38,1 “nunca ouviram falar do candidato” e 34,6 “apenas ouviu falar”. Ou seja, para 72,7% do eleitorado, a exposição do sobrinho tem sido inócua.

A outra prancha pergunta (e desenha): “Você votaria no sobrinho do atual governador Carlos Brandão, de nome Orleans Brandão, para ser o próximo governador do Maranhão?”. Nesse caso, simplesmente 57,2% afirmam que “Não votariam de jeito nenhum”.

E essa é a famosa “rejeição”, que apenas vem somar com outra prancha que pergunta “Você concorda que um governador apoie uma pessoa da sua própria família para ser o próximo governador do Maranhão?” e 53,8% dizem não concordar.
Portanto, a técnica de “afirmar até o fim”, registrada, proibida, agora autorizada do nome do sobrinho do governador parece não ter muito futuro, puro placebo. Ou quem sabe ganhe pelo cansaço, só não se sabe o cansaço de quem.
